Coluna da Segunda-feira

Coleta seletiva

A tragédia do morro do Mumba suscitou a questão dos lixões em áreas urbanas e provocou uma série de denúncias.

Rui Grilo
A Folha de São Paulo de 15/04 apresenta uma matéria alertando sobre o funcionamento de uma escola de educação infantil sobre um antigo lixão no bairro da Cachoeirinha. De acordo com a matéria, desde 1999 essa situação é conhecida pelas autoridades competentes, tendo inclusive a administração Kassab sido multada em 2006 e orientada a remover a escola do local, o que até hoje não aconteceu.

Ao mesmo tempo, o Grupo de Trabalho da Coleta Seletiva Solidária da cidade de São Paulo está denunciando o risco de São Paulo perder 6 milhões destinados pelo PAC à construção de dez galpões para triagem da coleta se até 03/07 não for iniciada a obra do primeiro galpão.

Segundo o GT, na cidade de São Paulo são produzidos diariamente, cerca de 15 mil toneladas de resíduos sólidos e menos de 1% desses são reciclados pela Prefeitura com o apoio das 17 cooperativas legalizadas.

Atualmente existem na Cidade de São Paulo cerca de 200 cooperativas sem documentação e em torno de 10 mil catadores individuas que juntos são responsáveis por 16% do que é reciclado na cidade.

As 2.500 toneladas de materiais que iriam para os aterros ou provocar enchentes na cidade rendem cerca de R$50 mil reais por mês para as cooperativas. Desse dinheiro as já legalizadas pagam o INSS e o restante é dividido entre os cooperados. Na Coopervivavem, por exemplo, cada um consegue um salário mensal de mais ou menos R$ 1mil reais, mês.

Segundo Sabetai Calderoni, autor do livro “Os bilhões perdidos no lixo” não existe empenho por parte das prefeituras porque elas alegam o alto custo da coleta seletiva. Isto se deve ao fato de ser contabilizado apenas o dinheiro recebido pelos materiais coletados e não se contabilizar os custos para a reparação dos danos provocados à população, à cidade e ao meio ambiente. Não se contabiliza o custo da perda da qualidade de vida e de enormes áreas que poderiam ser utilizadas para finalidades mais nobres.

As imagens das máquinas revolvendo o entulho em busca dos cadáveres, enquanto o chorume escorria contaminando a área circundante, escancarou a tragédia da falta de planejamento que traz como conseqüência gastos cada vez maiores do que aqueles necessários para uma coleta seletiva eficiente.

Enquanto isso, assistimos há pouco tempo o triste espetáculo de navios trazendo para cá os resíduos de outros países para reciclarmos aqui.

Uma coisa difícil de entender é que existe uma comoção com uma tragédia como esta de Niterói mas não existe mobilização para resolvermos o problema do nosso lixo. Quando ele é transportado para longe parece que deixa de ser um problema. Não se percebe que o dinheiro que está sendo gasto com o transbordo para Tremembé é um dinheiro que faz falta para a melhoria da Santa Casa, dos postos de saúde, e que isso também causa mortes de pessoas próximas a nós, causando muita dor. Essas mortes podem trazer como conseqüência maiores gastos para o município se as famílias entrarem na justiça exigindo reparação por perdas e danos.

Esse dinheiro gasto com o transbordo também compromete os recursos necessários à adequação da cidade para um turismo de qualidade. E sobretudo, não se percebe que matérias primas estão sendo perdidas, causando a degradação do nosso planeta, tanto pela queima de combustíveis necessários ao transporte desses resíduos, como pela necessidade de retirar mais matérias primas do meio ambiente acelerando o seu esgotamento e comprometendo o futuro das novas gerações.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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