Pensata

Memórias de outro terremoto

Sidney Borges
Em 1962 não havia transmissão de televisão via satélite. As partidas da Copa do Mundo do Chile chegavam por ondas de rádio e as imagens pelos aviões da Panair. Vinham enroladas em fitas magnéticas de vídeotape, coisa difícil de compreender, filme era fácil identificar, vídeotape não, parecia ao vivo. Como?

No dia 22 de maio de 1960 o Chile foi devastado por um terremoto, o mais forte da história. Na cidade de Valdívia o tremor alcançou 9,5 graus de magnitude, matando mais de 2 mil pessoas.

A Copa do Mundo esteve a ponto de não ser realizada, as marcas do cataclismo ainda estavam visíveis quando o Brasil estreou contra o México no Estádio Sausalito de Viña del Mar, em 30 de maio de 1962.

Vencemos por dois a zero, com gols de Zagalo e Pelé. Torci muito nesse dia, na Praça da Sé, em São Paulo, onde um painel com lâmpadas simulava o campo. No dia seguinte ao ver o VT na Record, notei uma placa no estádio, aliás todo mundo notou, a cada parada da bola a câmera mostrava a frase: “Porque nada tenemos, lo haremos todo”. Assinada por Carlos Dittborn.

Nunca esqueci da frase e do autor. Recentemente procurei no Google e descobri que Carlos Dittborn era chileno, mas tinha um pé no Brasil. Nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro. A competição aconteceu pela persistência dele que era comandante do Comitê Organizador da Copa. Dittborn morreu de parada cardíaca aos 38 anos, 32 dias antes da abertura dos jogos.

Dias depois da partida contra o México o Brasil jogou contra a Tchecoslováquia e Pelé se contundiu. Coisa séria, ele não voltaria a jogar na Copa, em seu lugar entrou Amarildo. O jogo terminou zero a zero. Felizmente Garrincha estava lá. Ao ver Pelé sair de campo chorando, amparado por Mário Américo, Mané pegou a bola e disse: deixa comigo. O Brasil acabou campeão. Bi-campeão. Para mim Garrincha ganhou a Copa, não digo que o fez sozinho, havia os demais, mas penso que foram apenas coadjuvantes, substituíveis. Se Mané não estivesse lá o resultado teria sido outro, o que é temerário afirmar pois não passa de mero exercício de conjetura. O que aconteceu não pode ser mudado. Enfim, livre pensar é só pensar, principalmente se você é o editor do blog.

Cinqüenta anos depois outro terremoto devasta o Chile, mais fraco na escala Richter, mas tão devastador quanto o de 1960. Naquele tempo os tremores eram atribuidos às atividades vulcânicas, ninguém falava em placas tectônicas. Desta vez o terremoto viajou passando pelo espigão da Paulista e assustando muita gente. Há alguns meses um tremor de pouca intensidade foi sentido em Ubatuba.
Tive a sensação de um caminhão pesado passando na rua. Os vidros tremeram. Só depois de alguns segundos me dei conta de que não havia caminhão. Não foi uma boa sensação. Hoje vou ligar para o corretor de seguros e pedir orçamento para terremoto e tsunami. Do jeito que as coisas vão tudo é possível, a meteorologia endoidou, as placas tectônicas estão nervosas.

Waal! Viver é perigoso...

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