Opinião

A volta do trem

Editorial do Estadão
Três décadas depois de terem sido eliminados do cenário brasileiro, os trens interurbanos de passageiros voltam a merecer a atenção das autoridades e, se alguns dos planos já anunciados saírem do papel, eles estarão em operação dentro de poucos anos. Não se trata de mero saudosismo. Como em vários outros países, também aqui o transporte ferroviário de passageiros pode ter um importante papel no alívio dos congestionamentos em vias urbanas e nas rodovias e também na desconcentração das atividades econômicas e da população, o que acabará resultando na melhora da qualidade de vida nas grandes cidades.

O governo do Estado de São Paulo, por exemplo, pretende restabelecer o transporte regular de passageiros entre a capital e cidades próximas, como Sorocaba, São José dos Campos, Campinas e a Baixada Santista. Para isso, o governo José Serra assinou decreto, delegando à Secretaria dos Transportes Metropolitanos o encargo de formular políticas para o transporte sobre trilhos além da região metropolitana. O secretário dos Negócios Metropolitanos, José Luiz Portella, garante que, em até dois meses, os técnicos de sua Pasta estarão em condições de apresentar um plano nessa linha.

O programa paulista pode começar pela ligação São Paulo-Sorocaba. "Hoje, há um trânsito de pessoas que moram em Sorocaba e trabalham em São Paulo", argumentou Portella. "Muitas usam ônibus fretados, mas isso vai passar a ser feito, em algum momento, por trem."

As novas linhas serão integradas à rede da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o que facilitará o acesso dos passageiros a diferentes regiões da capital e até de municípios da região metropolitana. Quanto mais passageiros utilizarem o sistema, menos ônibus e automóveis virão de cidades próximas para a capital, o que aliviará o tráfego nas rodovias e na cidade.

"Acabariam os congestionamentos nas estradas", prevê, com muito otimismo, o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos, Aílton Brasiliense. Para ele, é importante que um país classificado entre as principais economias do mundo, como o Brasil, tenha opções eficientes de transporte por avião, por rodovia e por ferrovia.

O transporte ferroviário interurbano de passageiros teve grande importância no País. Quatro dezenas de pequenas e grandes empresas operaram redes que chegaram a transportar 100 milhões de passageiros em 1960, sem contar o transporte urbano e o suburbano. Por falta de interesse das autoridades e pelos estímulos oferecidos pelo transporte rodoviário, o trem de passageiros ficou praticamente limitado ao transporte urbano (em São Paulo, com o Metrô e a CPTM).

Trens de passageiros de longa distância continuam em operação em países de dimensões continentais, como EUA, Canadá, Rússia, Índia e China, mas, no resto do mundo, o transporte de passageiros por ferrovia passou por transformações, sobretudo, a partir do momento em que empresas privadas passaram a operá-lo. Há, atualmente, uma forte predominância de ligações de média distância.

As ligações ferroviárias chamadas de regionais, com até 200 km de extensão, têm grande demanda e, em geral, não envolvem grandes investimentos na infraestrutura básica e nos sistemas de controle e segurança operacional, pois, em geral, utilizam redes preexistentes. Os maiores investimentos costumam ser nos próprios trens, que devem oferecer aos usuários conforto, segurança e confiabilidade suficientes para fazê-los abandonar ônibus ou automóveis e escolher o trem.
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