Interesse público

Verdades Veladas na Educação

A busca vã por informações na mídia a respeito da assembléia de professores ocorrida na última 6ª feira, 19 de março, em São Paulo, nos fez lembrar de um trecho do livro “1984”, de George Orwell (criador do personagem Big Brother): “... mais tarde, algum cérebro privilegiado do Partido Interno escolheria esta ou aquela versão, retocá-la-ia em alguns pontos e daria início aos complicados processos de referência cruzada necessários, e daí a mentira selecionada passaria aos anais permanentes, tornando-se verdade...”

Por que milhares de professores vão às ruas de São Paulo, e só aparecem rapidamente como grupo que atrapalha o trânsito?

Por que o governo insiste em dizer que apenas 1% dos professores está em greve, quando quem participou da última assembléia sabe que, só ali, havia cerca de 60 mil manifestantes (sem contar os que permaneceram em suas cidades) ?

Será que tornar pública a realidade das escolas de São Paulo, geralmente comentada de forma idealizada por teóricos da educação ou maquiada pelas propagandas do governo, incomoda a todos os setores da sociedade?

Quantos colaboram para que a efetiva realidade da escola pública de São Paulo não seja mostrada?

A realidade da escola é conhecida, de fato, pelos professores que lá estão diariamente: são prédios mal cuidados, muitas vezes com goteiras e banheiros em péssimas condições de uso, espaços inadequados para as práticas pedagógicas que atendam às novas demandas dos alunos, além disso, há falta de funcionários que deem apoio pedagógico e burocrático.E até mesmo o número de funcionários de limpeza é insuficiente.

Os alunos que há algum tempo terminavam a 1ª série do Ensino Fundamental alfabetizados, hoje chegam à 5ª série semi-alfabetizados e as atuais 8ªs séries não correspondem nem de longe aos alunos que concluíram o Ensino Fundamental há uma década. Todos são frutos da legislação vigente de progressão continuada, que favorece o fluxo de uma série para a outra, mas incentiva o aluno a não mostrar empenho, já que apenas a freqüência diária garante-lhes aprovação.

A falta de respeito e a violência aumentam a cada dia no espaço escolar. Gritos, palavrões, indiferença para com o professor, enfrentamento e xingamentos entre colegas, infelizmente, tornaram-se habituais.

Os bônus, tão divulgados, são distribuídos aos professores num critério pouco transparente que alia os resultados do SARESP (nem sempre publicados) ao fluxo dos alunos na escola (por fluxo entenda-se: conclusão do ciclo na faixa etária esperada).

A data base para reajuste salarial é descaradamente ignorada pelo governo, ocasionando com isso uma perda que atualmente está na casa dos 34% e, o aumento salarial vinculado ao resultado da prova por mérito, caberá a até 20% de professores, incluídos nesses 20% professores, diretores, supervisores e coordenadores. Todos os demais não serão beneficiados.

Educação, para o governo é gasto e não investimento.

Os poucos espaços que nos cabem na mídia são os que causam sensacionalismo como atitudes violentas no âmbito escolar, muitas vezes com intervenção policial e os transtornos ao bom andamento do trânsito nas vias públicas; nos casos das legítimas manifestações da classe.

Não queremos ser transtorno para ninguém mas, lamentavelmente, não somos ouvidos e nem atendidos de outra forma.

Nossas reivindicações são importantes! Não temos medo de provas, não fugimos ao desafio diário!

Temos medo é da censura velada e da manipulação de informações que ocultam interesses nem sempre declarados.

Professores grevistas de Ubatuba (SP).

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