Dia da Mulher

Mulheres, o que esperamos?

Lourdes Moreira

Ao abraçá-la, num gesto doloroso da perda, imaginei que o luto doia-lhe na carne e na alma. Certamente a alma devia sangrar-lhe e a carne estar com dores profundas como se um trator tivesse por cima dela passado. Dona Zelma sussurrou-me ao ouvido que esperava que ela partisse antes de seu filho Maurício. Foram segundos abraçadas, mas suas palavras calaram profundamente em mim. Claro que nós mães esperamos que a vida transcorra naturalmente. Que nossos filhos possam ter sucesso profissional e pessoal; que criem e eduquem suas crias e que possamos partir “desta pra outra” numa despedida tranquila deixando-os realizados e felizes numa trajetória natural.

Quer dor que cale mais fundo do que mãe que perde filho? Ainda não descobri. Perdemos nossos filhos Brasil afora sem que hajam atitudes sérias e comprometidas com nossas perdas.

Somos mães que os perdemos por falta de seriedade na saúde pública brasileira; ao depararem-se com o tráfico de drogas tornando-se presas fáceis como drogados que não nos reconhecem em seu viajar destruidor e suicida; como traficantes ou aviõezinhos que são presos e trancafiados excluídos de nossas vidas (já ouviram falar do filho que foi pego com droga na mochila mas que era do amigo?)ou excluindo vidas; ao serem violentamente arrasados por doentes mentais que os seviciam mas que, pelas vergonhosas leis brasileiras, os algozes ficam impunes após cumprirem um sexto da pena.

Somos mães que os perdemos por tantos motivos... Lembram-se do sofrimento da mãe da Isabela do caso Nardoni? Lembram-se da mãe de João Hélio que foi arrastado por ladrões insanos? Lembram de sua dor?

E aí, depois das condolências, das notas na mídia ficamos sozinhas com nossas dores e sem nossos amores. Ouros maiores que nos foram presenteados. E aí? Fazemos o quê? Calamo-nos? Não usamos as tribunas e os tribunais para gritarmos nossa dor? Não nos insurgimos contra os processos ou averiguações posteriores que, se não nos dão retorno ou se os dão, são pífios perante nossas dores?

Precisamos urgentemente de políticos e políticas sérias em nossas vidas. De que saibam que suas atitudes revertem no bem ou mal da sociedade. Que não vejam em seus mandatos apenas uma forma de transformarem-se em “estrelas” onde os holofotes pipocam em suas direções. Que seus atos transformam as vidas das pessoas pelas quais foram eleitos e que, se os eleitores pareciam joguetes no momento da eleição, estão mais esclarecidos e mais cônscios de seus direitos e dos sofreres por que nossa sociedade passa por atitudes impensadas ou corruptas de nossos legisladores.

O Dia da Mulher aí está. Temos que mostrar nossas perdas e nossas dores num luto onde o negro de nossas vestes manifestem nosso sofrimento numa tarde em Ubatuba ou em qualquer cidade desassistida de nosso país. Temos pouco a comemorar neste dia, mas comemoramo-lo na dor sentida do luto de tantas mães e que dona Zelma, com suas ações sociais tão importantes a Ubatuba, amaine a sua e volte logo... logo a nos agraciar com sua coragem e ousadia.

Afinal, o que estamos esperando para nos insurgirmos contra leis e atos que tem-nos feito engolir por incapacidade de políticos nas decisões de políticas públicas sérias?

Lourdes Moreira
Profª da Rede Municipal e Estadual de Ubatuba


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