Deu na Folha

Duas colunas (Editorial)

Não restam dúvidas -a partir das declarações da própria líder do movimento, Maria Izabel Noronha- quanto ao caráter eminentemente político da greve dos professores no Estado de São Paulo, que se estende há três semanas.

Trata-se, como disse a presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), de "quebrar a coluna" do governador José Serra, cuja candidatura à sucessão presidencial se encontra em vias de oficialização.

Apontar para este fato, aliás, tem sido a tônica dos pronunciamentos governamentais. A constatação é correta, mas não aponta solução para o impasse.

Sem dúvida, confia-se num progressivo esvaziamento da greve -que, em meio à névoa de números inconfiáveis de lado a lado, está de todo modo longe de contar com os índices de adesão propalados pela Apeoesp.

Parte dos alunos da rede estadual se vê, enquanto isso, prejudicada em seus estudos -e, ao óbvio interesse partidário da liderança sindical, deve-se somar a responsabilidade do próprio governo Serra pela situação.

Desde 2005, os professores paulistas receberam apenas 5% de aumento salarial, contra uma inflação de 22% no período.

Diante da matemática elementar desse desajuste, a recusa do governo em negociar com os grevistas termina constituindo, na prática, combustível para a radicalização do movimento.

Ainda que a oposição à política educacional serrista se alimente do mais puro corporativismo, evidenciado pela resistência da Apeoesp à política de avaliação do desempenho dos professores, o fato salarial em que se baseia o movimento não pode ser ignorado.

A menos que, sem admitir o seu propósito, também o governo estadual esteja pensando, sobretudo, em "quebrar a coluna" das lideranças sindicais.

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Comentários

Anônimo disse…
Parece óbvio: uns querem "quebrar a coluna" dos outros. E todos metem "os pés pelas mãos". Todos. Essa política educacional da "progressão continuada" sem convencimento dos encarregados de praticá-la, por exemplo, já "quebrou a coluna" da educação no Estado de São Paulo. É só olhar os índices - de desempenho dos alunos, não os de "evasão" ou "repetência", alardeados à exaustão. Os exames de desempenho dos professores são uma boa idéia, no mérito - mas na prática são uma enorme fraude, só para iludir a opinião pública. Fazer os professores voltarem à escola, depois de formados na escola, chega a ser ridículo, se não fosse trágicamente idiota e perdulário. Ou as escolas ensinam a lecionar (cursos superiores ligados à educação), e não há necessidade de novas escolas (cabides?), ou não ensinam, então é preciso ver o que há de errado com elas, e corrigir.
Mas não há erro: o objetivo é "quebrar a coluna" do sindicalismo (péssimo) corporativista. Depois a gente vê o que fazer com os alunos.
Conversem com professores mais antigos. Vejam o que realmente acontece em sala de aula, bem longe dos gabinetes (até das Diretorias Regionais de "Ensino").
Tudo isso sem falar no reajuste salarial.

Parece pouco?

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