Domingo

Palavras ao vento

Sidney Borges
Algumas palavras me incomodam. Samambaia, por exemplo. Seria mais apropriado dizer sambambaia. Quando eu era criança dizia e levava pito na hora. Também era repreendido por sombrancelha, tão lógico, se faz sombra aos olhos por que não explicitar. Estou falando de samambaia por conta da "suaboba" que mora em casa há mais de trinta anos e estava ficando careca.

Na verdade eu não tinha notado a presença dela, sabia que existia pelo volume ocupado. Até que uma vespa hospedeira construiu sua "casa de horrores" em uma folha seca. Está lá, feita de barro. Dentro aranhas vivas estão sendo devoradas por larvas. O veneno da vespa paralisa as vítimas, mas as mantém vivas, comida fresca.

Na Idade Média tal indiosincrasia reprodutiva levou alguns naturalistas a duvidar da existência de deus. Com inúmeras formas de reprodução disponíveis por que escolher uma com tal dose de sofrimento? Talvez haja resposta, não acredito que a encontrarei, mas deixo claro que sou contra a crueldade do universo. Tenho comigo que a maior foi dar ao homem discernimento para saber de sua finitude. Se foi pra desfazer por que é que fez...

Mas como estou aqui, não sei como nem porquê, vou observando e agindo na medida do possível, mais observando do que agindo. Em alguns casos ação é fundamental, com isso em mente resolvi revigorar a samambaia. Comprei um "fortificante" que misturo na água e coloco no xaxim duas vezes por semana. Apareceram brotos, muitos, alguns já estão se transformando em folhas.

Também mudei "suaboba" de lugar, agora ela está na sombra como gostam as samambaias. Sombra e água fresca. Quem não gosta? As folhas secas eu removi e tive uma surpresa. A resistência à tração das fibras é enorme. Trancei três e submeti o conjunto a esforços. Sem laboratório e nem mesmo um dinamômetro, pendurei o saco de ração do Brasil (meu cachorro).

As fibras aguentaram sem dar sinal de rompimento. Quando cheio o saco pesa 15 kgf, acho que nas condições do experimento pesava 10 kgf. Se dispusesse de condições investigaria a fundo essas fibras, pois além de resistentes são extremamente leves. No Brasil (meu país) o que não falta é samambaia. Quem sabe essas fibras possam ter alguma aplicação prática que ajude a diminuir a desigualdade.

A conversa está boa, mas preciso terminar. Está na hora do Vigilante Rodoviário. O cachorro Lobo é quase tão inteligente quanto o Brasil (meu cachorro), que está avisando que o sorveteiro chegou. Ele adora picolé de milho verde.

Twitter

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu