Deu em O Globo
Décadas perdidas
De Regina Alvarez (original aqui)
Uma análise divulgada esta semana pelo IEDI convida a uma reflexão sobre o nosso modelo de desenvolvimento e os caminhos que podemos trilhar no futuro pós-crise para chegar ao estágio tão sonhado de crescimento sustentado, sem paradas, nem recuos.
Com base em informações das Nações Unidas, o Instituto comparou a evolução da indústria brasileira com a de outros países emergentes nas últimas quatro décadas.
Os dados mostram que, entre 1970 e 2007, países com taxas médias de crescimento anual iguais ou superiores a 5% aumentaram fortemente a participação da indústria de transformação em suas economias. Esse processo, liderado por China e Coreia do Sul, contrasta com o que aconteceu no Brasil.
Por aqui, a indústria encolheu em relação ao peso que tinha no passado. Respondia por 30% do valor adicionado total, em média, entre 1972 e 1980. E caiu para 23,75% em 2007. Houve, como os especialistas chamam, uma desindustrialização relativa na economia nesse período.
A participação do Brasil na economia mundial se mantém praticamente estabilizada, desde a década de 80, graças ao crescimento da agropecuária. A indústria de transformação perdeu espaço no cenário internacional.
O economista Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, observa que os países emergentes, especialmente os asiáticos, usaram, ao longo dos últimos 25 anos, o processo de industrialização como instrumento para o seu desenvolvimento, enquanto o Brasil, na contramão desse processo, apostou todas as fichas na chamada vocação agrícola, deixando a indústria em segundo plano.
Almeida considera que, no Brasil, há uma concepção errada de que a indústria e o setor primário estão em lados opostos, quando, na verdade, o grande diferencial que poderíamos ter em relação aos asiáticos, por exemplo, é a conjunção desses dois segmentos em prol de um mesmo objetivo: o desenvolvimento forte do país.
— Apostamos só na potência agrícola. Isso é perda de oportunidade — afirma.
O economista destaca que o país perde por não industrializar os produtos básicos. O sistema tributário pune cada etapa da cadeia de produção, o que desestimula a agregação de valor aos produtos. Nas condições atuais, é mais lucrativo exportar soja do que óleo de soja, exemplifica.
— O Brasil abdicou de ter a indústria como motor do desenvolvimento. Erradamente, pois teria um trunfo que só os EUA têm, articular o setor básico com o industrial — conclui.
Nota do Editor - O texto acima é interessante, mas não toca no ponto nevrálgico. Coréia do Sul e China investiram pesadamente em educação. Estão colhendo resultados. O Brasil fez o contrário, destruiu um sistema educacional eficiente alegando ser elitista. Em seu lugar criou um monstrengo com escolas cheias de alunos que após 11 anos de estudos permanecem semi-analfabetos, quando não totalmente. Só poderíamos nos voltar à vocação agrícola. Para cortar cana bastam os braços. Para desenvolver tecnologia industrial é preciso cérebros treinados. O modelo brasileiro é ilusório, não agrega valor capaz de alavancar o desenvolvimento. Quando a China parar de comprar nossas mercadorias agrícolas e nosso minério vamos ficar à míngua. Apesar do bom momento da balança comercial a infraestrutura do país continua em frangalhos e a desigualdade, apesar dos programas sociais do governo Lula, corretos, está longe de atingir patamares aceitáveis. Com uma política educacional séria poderemos criar condições reais de desenvolvimento. (Sidney Borges)
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De Regina Alvarez (original aqui)
Uma análise divulgada esta semana pelo IEDI convida a uma reflexão sobre o nosso modelo de desenvolvimento e os caminhos que podemos trilhar no futuro pós-crise para chegar ao estágio tão sonhado de crescimento sustentado, sem paradas, nem recuos.
Com base em informações das Nações Unidas, o Instituto comparou a evolução da indústria brasileira com a de outros países emergentes nas últimas quatro décadas.
Os dados mostram que, entre 1970 e 2007, países com taxas médias de crescimento anual iguais ou superiores a 5% aumentaram fortemente a participação da indústria de transformação em suas economias. Esse processo, liderado por China e Coreia do Sul, contrasta com o que aconteceu no Brasil.
Por aqui, a indústria encolheu em relação ao peso que tinha no passado. Respondia por 30% do valor adicionado total, em média, entre 1972 e 1980. E caiu para 23,75% em 2007. Houve, como os especialistas chamam, uma desindustrialização relativa na economia nesse período.
A participação do Brasil na economia mundial se mantém praticamente estabilizada, desde a década de 80, graças ao crescimento da agropecuária. A indústria de transformação perdeu espaço no cenário internacional.
O economista Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, observa que os países emergentes, especialmente os asiáticos, usaram, ao longo dos últimos 25 anos, o processo de industrialização como instrumento para o seu desenvolvimento, enquanto o Brasil, na contramão desse processo, apostou todas as fichas na chamada vocação agrícola, deixando a indústria em segundo plano.
Almeida considera que, no Brasil, há uma concepção errada de que a indústria e o setor primário estão em lados opostos, quando, na verdade, o grande diferencial que poderíamos ter em relação aos asiáticos, por exemplo, é a conjunção desses dois segmentos em prol de um mesmo objetivo: o desenvolvimento forte do país.
— Apostamos só na potência agrícola. Isso é perda de oportunidade — afirma.
O economista destaca que o país perde por não industrializar os produtos básicos. O sistema tributário pune cada etapa da cadeia de produção, o que desestimula a agregação de valor aos produtos. Nas condições atuais, é mais lucrativo exportar soja do que óleo de soja, exemplifica.
— O Brasil abdicou de ter a indústria como motor do desenvolvimento. Erradamente, pois teria um trunfo que só os EUA têm, articular o setor básico com o industrial — conclui.
Nota do Editor - O texto acima é interessante, mas não toca no ponto nevrálgico. Coréia do Sul e China investiram pesadamente em educação. Estão colhendo resultados. O Brasil fez o contrário, destruiu um sistema educacional eficiente alegando ser elitista. Em seu lugar criou um monstrengo com escolas cheias de alunos que após 11 anos de estudos permanecem semi-analfabetos, quando não totalmente. Só poderíamos nos voltar à vocação agrícola. Para cortar cana bastam os braços. Para desenvolver tecnologia industrial é preciso cérebros treinados. O modelo brasileiro é ilusório, não agrega valor capaz de alavancar o desenvolvimento. Quando a China parar de comprar nossas mercadorias agrícolas e nosso minério vamos ficar à míngua. Apesar do bom momento da balança comercial a infraestrutura do país continua em frangalhos e a desigualdade, apesar dos programas sociais do governo Lula, corretos, está longe de atingir patamares aceitáveis. Com uma política educacional séria poderemos criar condições reais de desenvolvimento. (Sidney Borges)
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