Coluna da Segunda-feira

A cidade é a minha casa

Rui Grilo
Há menos de dez anos, pesquisas apontavam que mais da metade da população que morava em Guarulhos tinham com ela apenas uma relação de dormitório, um lugar desagradável para viver. A partir desses dados, seus governantes investiram pesado na melhoria da paisagem e das condições de vida e de lazer. E essa relação de afetividade com a cidade melhorou, embora nem todos os problemas tenham sido resolvidos, entre os quais o tratamento dos esgotos.

Na discussão do plano diretor, o que apareceu como maior problema de Ubatuba foi o saneamento básico e a melhoria das vias públicas.

É preciso que cada cidadão tenha o sentimento de que o município em que mora é a sua casa, o lugar de onde tira o sustento, onde encontra os amigos, onde as suas necessidades humanas são satisfeitas, incluindo a beleza. E como é sua casa, deve tratá-lo com amor e carinho, evitando a sua degradação, tornando-o mais bonito e agradável.

Em qualquer bairro de Ubatuba, mesmo o mais pobre e sem infraestrutura , sente-se uma gostosa sensação, porque ao colocar a cabeça para fora da janela ou da porta, próximo ou um pouco mais distante, temos no horizonte o mar ou a montanha com suas florestas ainda bem preservadas.

No entanto, quem vive ou circula por aqui pode perceber que muitos moradores não estão satisfeitos com a cidade onde moram devido ao descaso das autoridades. É um absurdo que a praia onde é realizado o campeonato de surf que divulga a cidade mundialmente ostente a bandeira vermelha da poluição. É um absurdo que nossa praia principal, há vários anos seguidos continue imprópria para banho. E é um absurdo que um município que quer ostentar o título de “município verde ou sustentável”, com todo o conhecimento que já existe, ainda recicle menos de dois por cento de seus resíduos.

Nesta semana um grande passo foi dado no sentido de resolver esse problema. Prefeitura e sociedade civil abriram negociações para resolver a questão da destinação dos resíduos sólidos, os quais, na proposta negociada podem se transformar na matéria prima de bloquetes e outros materiais que poderão ser utilizados na reurbanização do município.

Cabe agora às autoridades e todos os movimentos sociais organizados envolverem a população na discussão de quais materiais seriam prioritários e mais bonitos: bloquetes para calçamento de ruas e praças? Tijolos e placas para construção de residências populares e equipamentos públicos?

O contato com os materiais produzidos fortalecerá a consciência de que aquilo que se considera lixo na verdade é matéria prima que tem um custo e que poderá baratear a reurbanização da cidade, evitando os altos custos do transbordo e, ainda de quebra gerar emprego e renda para muitos.

A distribuição da renda gerada pela reciclagem dos resíduos sólidos envolve outra discussão sobre qual modelo é mais adequado para o município: através de empresas ou cooperativas?

A implantação da reciclagem também poderá mudar, para muitos, a idéia de que as leis ambientais atrapalham o progresso. Poderão verificar na prática que a aplicação das leis de proteção ambiental contribuem para a geração de novos empregos e melhor qualidade de vida para todos, impedindo a degradação das águas e o fim dos recursos turísticos locais.
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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