Brasil varonil



Impunidade rompe um silêncio secular em entrevista

Do Blog do Josias (original aqui)
Deputados e senadores retornaram à atividade. Tudo voltou ao normal em Brasília. Inclusive as anormalidades.

No Congresso, José Sarney discursou em defesa da “ética” e da “modalidade”. Na Câmara Legislativa da Capital, foi lida a mensagem de José Roberto Arruda.

O governador dos panetones anotou no texto: “Toda crise passa”. Evocando o apóstolo Paulo, disse que trava o “bom combate”. Mais: “Não perdi a fé”.

Frequentemente apontada como culpada de todos os males que conspurcam a política brasileira, a Impunidade revoltou-se.

Em entrevista ao repórter, a nobre senhora disse que não podem mais ficar impunes os que a acusam impunemenete há anos.

“Sou inocente”, disse a Impunidade, fronte alta. Vão abaixo os principais trechos da conversa:

- Por que ninguém é punido no Brasil?
Punidos há, meu rapaz. Mas só abaixo de um certo nível de renda. Ricos e poderosos escapam por por culpa do ilógico que nos cerca.


- A sra. está na origem dessa falta de lógica, não?
Negativo. Sou inocente. A origem está no Éden.


- Como assim?
Ao comer do fruto proibido, Adão e Eva nos roubaram o paraíso. Em troca, ganhamos o sexo e a indústria do vestuário. Passamos a parir milhões de corpos inúteis. E vieram as roupas, bolsos em excesso, as cuecas, as meias...

- A culpa, então, é da serpente?
Há também os portugueses?


- A sra. pode ser mais específica?
Raciocine comigo, meu rapaz: como seria o Brasil se os portugueses tivessem sido postos para correr naquele fatídico 22 de abril?


- Como seria?
Um país habitado exclusivamente por índios. No resto do mundo, políticos de terno, gravata e roupas de baixo. Aqui, todos nus, vergonhas à mostra.


- A culpa, então, é da indústria da moda?
Não podemos esquecer o fator genético.


- Quer dizer que...
Permita-me concluir o raciocínio, meu rapaz.


- Por favor, vá em frente.
Se as caravelas tivesem sido expulsas, nós não estaríamos tendo essa conversa. Você não existiria.


- Mas, mas...
Sua cara denuncia a presença de sangue índio nas veias. O clareamento de pele veio com a mistura: portugueses, negros, italianos e todo o coquetel de que você é feito.


- Quer dizer que a culpa é minha? Ou, pior, da imprensa?
Não me entenda mal, rapaz. Você não existiria. Mas, em compensação, também não existiriam o Arruda, o Sarney, o Jáder, o Renan...


- A sra. está sendo racista...
Alto lá. Racista não, realista. Pense em como seria o Brasil se os holandeses tivessem derrotado os portugueses na Capitania do Maranhão, colonizando depois todo o país. O padrão nacional de beleza seria outro. Em vez do bigode do Sarney, uma legião de giseles, loiras, pernudas, longilíneas, lindas.


- A culpa, então, é da miscigenação?
Convém não esquecer a maldição do autodesprezo.


- Não entendi.
Somos a terra do malandro, do indolente. Respiramos um paradoxo: somos o país do jeito pra tudo e, simultaneamente, o país que não tem jeito. O mundo olha para os nossos canalhas e suspira: sabe como é... brasileiro...


- Isso soa a lero-lero de quem não quer assumir a própria culpa.
Não me onfenda, caro rapaz. Então o Lula, presidente que nada vê e nunca sabe, diz que o Sarney não pode ser tratado como pessoa comum e eu é que sou culpada?


- Entendo. A culpa, então, é do presidente?
Veja bem, não podemos esquecer o resto.


- O resto?
Exatamente. Refiro-me aos milhões de brasileiros comuns. Eles tem o poder. Mas se esquivam de exercê-lo.


- Como assim?
Ora, meu rapaz, não há marcianos na política. Eles são eleitos. Roubam, desviam, tripudiam, dançam, sapateiam... E são reeleitos.


- Mas, mas...
Em vez de mandar essa gente pra cucuia, o eleitor prefere se agarrar à crença de que é vítima de um conto-do-vigário eterno. Esse papel de vítima é coisa de otário, meu rapaz.


- Culpa do povo, portanto.
Não queira me comprometer. Ouça tudo o que e eu te disse. Você me parece um rapaz inteligente. Tire suas próprias conclusões. Mande seus 22 leitores olharem no espelho. Qianto a você, pare de encher a boca para pronunciar o meu nome. Esqueça a Impunidade, meu rapaz. De quem é a culpa? Eu te digo: Minha é que não é. Não, não e não!


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