Opinião

Quase duas décadas sem sair do lugar

Washington Novaes
O tema é penoso, pode até parecer irritante ao eventual leitor - pela insistência -, mas não há como fugir dele. Porque na semana em que se encerra o prazo para os países registrarem voluntariamente se estão de acordo com o texto final apresentado na reunião da Convenção do Clima em Copenhague e quais são seus objetivos para reduzir emissões, na verdade, nada se avançou - embora se tenha discutido naquele encontro que é preciso fazer todos os esforços para que a temperatura da Terra não suba mais que l,5 grau até 2050 (esteve 0,56 grau acima da média em 2009; todos os anos da década estiveram entre os mais quentes).


Também se discutiu ali que será preciso que os países industrializados contribuam com US$ 10 bilhões anuais até 2012 para ajudar os países mais pobres a enfrentar mudanças climáticas ("chegando a US$ 195 bilhões anuais em 2020"), mas até aqui nada aconteceu. Os países industrializados continuam mergulhados apenas nas discussões sobre sua crise econômica e de mais não querem saber. Não espanta, assim, que o secretário-geral da convenção, Yvo de Boer, tenha dito (Estado, 21/1) que não garante que se consiga chegar este ano a um acordo satisfatório, embora já haja mais uma reunião da convenção marcada para Cancún, no fim do ano.

E tudo isso acontece no momento em que Sul e Sudeste brasileiros estão mergulhados em tragédias decorrentes de mudanças do clima e da nossa incapacidade de lidar com elas. Barragens rompem-se ou transbordam, centenas de milhares de pessoas estão sob ameaças graves em dezenas de cidades, onde as chuvas atingem volumes inéditos. Segundo a Agência Nacional de Águas (Estado, 12/1), mais da metade dos reservatórios de abastecimento no País está com as comportas abertas, capacidade de retenção esgotada.

Mas embora a acentuação de "eventos extremos" como as chuvas volumosas tenha sido evidente - com 525 municípios em estado de emergência em 2007, mais de 800 em 2008 e 841 até setembro de 2009 -, lembrou este jornal em editorial (6/1, A3) que foi gasto de 10 a 15 vezes mais em reparos após as catástrofes do que em medidas de prevenção. E, muito grave, nenhum centavo foi aplicado na implantação do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos ou no projeto de coordenação do Sistema Nacional de Defesa Civil. Caracteriza-se, assim, ao longo de muitos anos, um continuado descaso ante a possibilidade prevista de tragédias.
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