Opinião

Olhar para o céu, tomar decisões

Washington Novaes
"Não se deve chorar pelo leite derramado", costumavam dizer os mais antigos. Porque seria inútil. E porque - estava implícito - o necessário seria mudar de atitudes, adotar caminhos adequados para que os problemas não se repetissem. Parece ser uma boa lição diante dos graves acontecimentos na área dos desastres provocados nas últimas semanas em várias partes do Sudeste, principalmente por mudanças climáticas, chuvas intensas. Em Capivari foram 151 milímetros (ou151 litros de água por metro quadrado de solo) em 90 minutos; em São Paulo, na última segunda-feira, 73 milímetros; em Angra dos Reis, São Luís do Paraitinga e outros lugares, mais dilúvios. Nada ainda parecido com o que houve em Blumenau em 2008, com mais de 800 milímetros de chuvas em único dia (800 litros de água por metro quadrado de solo). São os chamados eventos extremos, para os quais o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) tem chamado insistentemente a atenção: eles são uma característica dos novos tempos, com o aquecimento da temperatura planetária em razão da concentração de gases emitidos em vários setores da atividade humana.


A lição a tirar - tantas vezes repetida neste espaço - é a de que não nos preparamos para esses novos tempos, para os eventos extremos. Não só continuamos a permitir a ocupação de áreas inadequadas (encostas e topos de morros, principalmente, mas também áreas muito úmidas), como quase nada temos feito para impedir a impermeabilização dos solos urbanos e a redução da capacidade de fluxo dos rios - e com isso favorecemos grandes enchentes. Mais grave, entretanto, é que não conseguimos, apesar das evidências de urgência, formular políticas adequadas não apenas de mitigação (redução de emissões), mas de adaptação às novas condições climáticas, em muitas áreas.

Está claro que as regras para ocupação do solo em toda parte terão de ser muito mais rigorosas - e isso inclui a revisão das autorização legais ou de fato para ocupação. Angra dos Reis é um bom exemplo, com 3 mil casas em áreas de risco. Ou o Jardim Romano, em São Paulo, onde se permitiu o parcelamento por grileiros de uma área que não deveria ser ocupada - e agora não se sabe o que fazer com milhares de famílias. Mas os próprios padrões urbanos de construção - seja de moradias ou infraestruturas (pontes, viadutos, etc.) -, assim com os padrões rodoviários, precisarão ser fortalecidos para pôr fim ao espetáculo de ruptura de pontes e aterros, desmoronamento de pistas, rompimento de barragens. Todos esses padrões obedecem às necessidades e exigências de outros tempos em matéria de clima. E agora é preciso mudar os critérios em cada município, em cada Estado, no País todo. Para dar à população a certeza de que ela será protegida por instituições competentes em cada lugar, em cada necessidade.
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