Opinião

Redescobrindo os EUA

Editorial do Estadão
Os Estados Unidos - quem diria? - são importantes demais para serem deixados em segundo lugar na pauta de exportações do Brasil. "Vamos investir muito em 2010 no mercado americano", prometeu o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, ao comentar os números de exportação e importação do ano passado. Em 2009, os exportadores brasileiros venderam aos Estados Unidos US$ 15,7 bilhões em mercadorias. Esse valor foi 42,4% menor que o do ano anterior. Os americanos perderam para os chineses o posto de maiores clientes do Brasil. Em Brasília, pelo menos em um Ministério esse fato parece provocar alguma reação e estimular um novo interesse comercial pela maior potência econômica do mundo.

A reação do secretário Barral é positiva, mas só produzirá resultados se envolver o primeiro escalão do governo. Há sete anos o mercado americano deixou de ser assunto prioritário para os formuladores da diplomacia comercial brasileira. Essa atitude parece haver contaminado até o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, embora sua orientação, a partir de 2003, tenha sido quase sempre mais pragmática e realista que a do Itamaraty.

Há um aspecto interessante, e quase divertido, na preocupação demonstrada pelo secretário Welber Barral. A redução das exportações para o mercado americano é facilmente explicável pela severa recessão nos Estados Unidos. Vários outros países perderam vendas para esse mercado em 2009. Em contrapartida, o mercado chinês se manteve dinâmico, porque a economia da China, embora afetada pela crise, continuou crescendo firmemente.

Em 2009, a participação brasileira nas importações americanas de bens não foi muito diferente da observada nos anos anteriores: ficou próxima de 1,4%. O problema realmente importante, no comércio Brasil-Estados Unidos, não ocorreu no ano passado. O grande erro foi cometido em 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, influenciado por seus estrategistas, decidiu enterrar o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Os governos brasileiro e argentino uniram-se para essa tolice. Fizeram a maior parte do trabalho, complementado, depois, pelas autoridades americanas. Em 2004, foi a sua vez de exibir intransigência e de contribuir para o fracasso das negociações.

Há alguns anos, o presidente Lula vangloriou-se, num encontro com sindicalistas, de haver tirado a Alca da pauta. Nessa ocasião, ele admitiu publicamente, pela primeira vez, o fato conhecido de quem acompanhava o assunto. A intransigência americana, em 2004, apenas facilitou o trabalho dos governos brasileiro e argentino. Nos anos seguintes, o presidente e seus conselheiros vangloriaram-se várias vezes de haver redistribuído geograficamente as exportações brasileiras, diminuindo a dependência do mercado americano. A história real é outra: o Brasil limitou-se a acompanhar o crescimento do mercado americano e deixou as novas oportunidades a parceiros mais pragmáticos - entre eles China, Índia e Rússia, os outros Brics.
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