Deu em O Globo



Parcerias estratégicas

De Merval Pereira (original aqui)
A disparidade de preços do Rafale francês em licitações em andamento em países como a Índia e os Emirados Árabes está introduzindo uma nova variável na concorrência brasileira para a compra dos caças da FAB, que já estava na berlinda diante da informação de que a Aeronáutica prefere o avião sueco Gripen, por ser o mais barato de todos.


A explicação oficial de que a compra brasileira seria decidida não por critérios de preço, mas sim por adequação a uma estratégia de política externa brasileira, fica abalada pela diferença de preços oferecido pela França ao Brasil e aos outros países.

A Índia está comprando nada menos que 126 aviões pelos mesmos US$ 10 bilhões que o Brasil está pagando por 36, sendo que desses 108 serão produzidos na Hindustan Aeronautics no próprio país, com programa de transferência de tecnologia até onde se sabe igual ao prometido ao Brasil.

Os Emirados Árabes, por sua vez, estão comprando 60 jatos Rafale, num negócio estimado entre US$ 8 a US$ 11 bilhões.

A prevalecer essa diferença de preços, estaríamos diante de um "parceiro estratégico" que se aproveita de nosso interesse para cobrar mais caro pela parceria.

O governo brasileiro, que já deixou claro, através do próprio presidente Lula, sua inclinação para comprar os jatos da empresa Dassault, resolveu fazer uma consulta formal à França para saber quais são as diferenças entre o pacote brasileiro e os outros que justificariam preços tão desiguais.

A única explicação seria o pacote tecnológico, mas as primeiras informações são de que a Índia também terá um programa de transferência de tecnologia.

Para complicar o jogo, que já parecia definido, a Boeing está oferecendo para a Embraer a participação no programa de desenvolvimento do avião, chamado de Global Super Hornet, o que significa uma mudança de atitude inédita no governo americano em matéria de transferência de tecnologia.

Também o Congresso americano, que tem que aprovar os programas de transferência de tecnologia, deu a autorização prévia em setembro.

Nota do Editor - Um argumento para a escolha dos caças franceses, em oposição aos americanos, é a possibilidade de não haver assistência em caso de conflito que envolva interesses do "Império". É uma possibilidade real, mas existe também se a transação for efetivada com a França. Na "Guerra das Malvinas" os argentinos ficaram literalmente a ver navios com os mísseis Exocet e os aviões Super Étendard. Tiveram de se virar. Na cantada e proclamada transferência de tecnologia há inverdades no ar. Os aviões em licitação são coisa do passado, a tecnologia a ser transferida é obsoleta. Parece que a lição nunca será assimilada: tecnologia de ponta não se transfere, muito menos a militar, assim como não existe banqueiro generoso. Quem diz o contrário está mal informado. Ou mentindo. (Sidney Borges)

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