Crônica

Volteios e volutas

Sidney Borges
Hugo Chávez nacionalizou a rede francesa de supermercados do grupo Casino. Na revolução dos cravos o Pão de Açúcar de Lisboa também foi nacionalizado. Depois de algum tempo os donos do poder acharam melhor devolver o negócio. Complicado demais para teóricos marxistas.

Controlar a economia de um país parece fácil. Especialmente àqueles que acreditam em planejamento central. No Brasil de 2010 ainda há quem imagine um governo capaz de ditar as regras do jogo. Utopia, a economia do país vai bem por estar firmemente atrelada ao mercado internacional e ser diversificada.

Chávez depende do petróleo. Se o preço subir, há quem acredite que vá, ele terá condições de se consolidar no poder. Se o preço permanecer inalterado, ou diminuir, o governo bolivariano perderá sustentação. Chávez correrá então o risco de cair, mas afirmar isso é exercício de futurologia.

Afinal de contas, com tantos problemas próximos, quem se importa? Comunistas de gabinete, talvez. São como baratas albinas.

Racionalidade não combina com exoterismo. Tenho uma amiga bem nascida, criada em ambiente culto, formada em letras e ex-professora dos melhores colégios de São Paulo.

Esteve em casa há alguns dias quando contou que tem um guru. Na alta burguesia paulistana é obrigatório ter guru. O dela diz ser a reencarnação do Rei Arthur. Faz "trabalhos" em encruzilhadas.

Argumentei que a Távola Redonda e o Rei Arthur não têm existência comprovada, são entidades mitológicas.

Não teve jeito, ela mudou de assunto.

Vai certamente continuar comprando velas e peças íntimas rendadas a preço de ouro para os trabalhos do Rei.

Fico pensando nos mistérios da mecânica celeste. Por quais desígnios do universo um nobre tão cantado em prosa e verso viria reencarnar na periferia de São Paulo? Pobre, baixinho, gordinho, careca, vidrado na mãe e louco por Nova Iorque, onde nunca esteve.

Ray, o nome é Raimundo, embora tenha sido rei da Inglaterra, não fala inglês, mas adora as novelas da Globo e tem um poster de Rodrigo Santoro em frente à cama estilo Luís XV.

Samba do crioulo doido, Rei Arthur, Luís XV, Rodrigo Santoro, pomba gira e martini doce para adoçar as esperanças da minha amiga. Espero que o Rei, digo Ray, faça a parte dele, ela merece...

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