Aviação

Crônica de um vôo muito, muito louco

Marcelo Ambrosio no JBlog Slot (original aqui)
Há coisas que acontecem na aviação brasileira que só podem ser contadas em forma de crônica, para que o leitor ria e se divirta em vez de ter um acesso de fúria. Recebi o relato de uma passageira, conhecida minha, a respeito do voo que fez pela Gol de Buenos Aires para Brasília, com escala em Guarulhos. Há tantos absurdos que a gente se pergunta para que serve a Anac...

Eis o relato:

“No dia 27 de dezembro (domingo), nosso voo – Gol 7659 – sairia de Buenos Aires às 13h30 com previsão de chegada em Guarulhos às 17h20. Bem, chegou a hora de decolar e a porta nem fechada estava. O piloto avisou que estávamos esperando cinco passageiros que haviam tido problemas com a imigração. Em seguida, voltou a avisar que só poderíamos decolar às 16h30 por termos perdido um tal de slot (Nota da redação: o slot, que batiza esta coluna, é a autorização concedida pelo controle de tráfego para que a aeronave pouse ou decole. Perder significa ir para o fim da fila). Nisso, os passageiros, acho que 190, não quiseram ficar dentro do avião, então saímos. Tínhamos que estar de volta às 15h30. Parte dos passageiros reclamou que a empresa deveria fornecer o almoço, mas nada aconteceu.

Decolamos pouco depois das 16h30. Em Buenos Aires, 30 israelenses do voo tinham ligado para a companhia que pegariam na conexão em São Paulo. Mas a El Al foi irredutível e disse que não poderia adiar a decolagem – só há dois voos por semana São Paulo - Tel-Aviv. A Gol, olha empresa de bom coração, pousou e foi ao finger no Terminal 1 para ver se daria tempo de pegarem o voo. Mas quando paramos eles viram pela janela o jato da El Al decolando.

Para piorar, nossas bagagens foram despachadas para o Terminal 2, onde deveríamos ter chegado. Depois de andarmos até lá, esperamos mais de uma hora pelas malas, que vieram, algumas, em estado lastimável. Uma passageira lamentou ter recebido a dela arregaçada e com 3 kg a menos, que tal?

Nessa, como você pode imaginar, perdemos a conexão para Brasília. Um grupo de Recife conseguiu embarcar quase 0h. Tinha ali uma anestesista com cirurgia agenda para 7h da manhã seguinte. Bom, quando perguntamos, ainda em Buenos Aires, porque prejudicaram mais de uma centena de pessoas por causa de cinco, a Gol justificou que a bagagem já estava embarcada. Quisemos saber se não tinham como tirar tudo. Responderam: “achamos que ia dar tempo”. Na base do achismo, a empresa deve ter gastado uma fortuna e eu levei 24 horas para chegar em Brasília.

Muita gente falou que ia processar, mas eu duvido. Estava no dia seguinte a caminho do aeroporto no ônibus que nos pegou no hotel me achando a mais feliz dos seres humanos. Sabe por quê? Porque conheci no ônibus um infeliz que saiu de João Pessoa e já tinha ido a Recife, Rio e estava em São Paulo ainda tentando chegar em casa em Goiânia. Ri na cara do pobre. E achei que tava no lucro, mesmo tendo gasto R$ 1.600 para viajar e relaxar e voltar estressada.

PS: Quando esperávamos a mala, os próprios comissários, constrangidos, falaram que acharam a decisão absurda.

”Fiz questão de reproduzir o relato que recebi porque casos assim infelizmente não são raridade. A Gol pode ter tido boa vontade ao trocar o slot do voo em Buenos Aires – e certamente isso teve custo – mas o risco é exatamente o de dar um nó nas outras conexões. Teria certamente saído mais barato hospedar os cinco passageiros com problemas na imigração (na saída? em pleno Mercosul?) do que arrumar 185 maneiras de turbinar o marketing negativo.

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