Opinião

O novo formato da sucessão

Editorial do Estadão
Em política, mesmo os fatos considerados inexoráveis precisam acontecer para que comecem a produzir consequências. Há mais de um mês, por exemplo, era já dada como líquida e certa a saída do governador mineiro, Aécio Neves, da disputa com o seu colega paulista José Serra pela candidatura presidencial tucana. Mas só a partir da retirada do seu nome, em carta ao partido entregue na quinta-feira, a coreografia da sucessão assumiu um novo formato - embora as dúvidas sobre o seu desenrolar ainda estejam longe de se dissipar.

A desistência de Aécio resultou de duas ordens de fatores. Dentro do PSDB, ele em nenhum momento conseguiu influir no processo de escolha. Propôs uma prévia entre os filiados para tentar demonstrar que as preferências por Serra não se distribuíam igualmente pelo território tucano. Se isso se confirmasse, Aécio emergiria como um nome competitivo e a sua pré-candidatura receberia um atestado de legitimidade. Desse modo, teria um dado objetivo em favor do seu recorrente argumento de que, por temperamento e estilo político, é mais apto do que Serra a atrair lideranças partidárias e sociais que de outro modo se aliariam ao governo. Mas, em surdina, os tucanos deixaram as prévias morrer de inanição.

A cartada seguinte, lançada com o apoio de dirigentes do DEM, consistiu em exigir de Serra que até o fim deste ano abrisse o seu jogo - o Planalto ou uma nova temporada nos Bandeirantes. O paulista, cuja aversão ao risco faz lembrar Tancredo Neves, o avô de Aécio, permaneceu impassível, enquanto assenta sem alarde a infraestrutura de sua campanha. Além de dar tempo ao tempo para aferir melhor a tendência da ministra Dilma Rousseff nas pesquisas, Serra calcula que, se assumisse a pré-candidatura antes do lançamento da eleita de Lula, em fevereiro, no 4º Congresso do PT, ficaria mais fácil para o outro lado falar da sucessão como o confronto entre um ex-ministro de Fernando Henrique e um presidente aprovado por 80% da população.

Depois, Serra ao menos poderá contrapor à disputa plebiscitária entre dois modelos de governo, que interessa ao lulismo, a disputa entre dois currículos - o seu e o de Dilma. Fora do PSDB, Aécio não decolou, como se diz, perante o eleitorado nacional. Nas simulações preparadas pelos pesquisadores, o mineiro aparecia invariavelmente aquém de Serra no cotejo com a ministra. Em nenhum levantamento afirmou uma vantagem sobre Dilma que merecesse ser comparada com o favoritismo do paulista, apesar do seu relativo declínio nas sondagens mais recentes. Já com uma chapa Serra-Aécio, o sonho de consumo da oposição, as coisas mudariam de figura. São Paulo e Minas representam 1/3 do eleitorado brasileiro - com um pormenor: sem um dos seus governadores na disputa, menos aecistas tenderiam a votar em Serra do que serristas em Aécio.
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