Imprensa

1984, guru da mídia faz previsões para o futuro dos jornais

Do Webmanário (original aqui)
Em março de 1984, a revista Editor & Publisher encomendou ao sociólogo e especialista em mídia Leo Bogart previsões para o negócio dos jornais impressos para dali a 100 anos, ou seja, 2084.

Ainda estamos a 74 anos do deadline do exercício de futurologia, Leo Bogart já morreu e, surpreendentemente, nem a Editor & Publisher resistiu _após 125 anos, a revista que analisava a mídia sob lupa fechou as portas, em papel e na versão on-line, na semana passada.

O Poynter resgatou o artigo de Bogart, e é irresistível checar o quanto ele foi visionário num tempo em que internet ainda era uma rede apenas acadêmica e militar e parecia muito longe das nossas casas.

Vou antecipar a resposta: não por acaso ele era o principal pensador da mídia em seu tempo. É impressionante a quantidade de previsões que simplesmente já se realizaram. Vamos lá? Começo com um resumo da previsão e adiciono meus comentários. Divirta-se.

1. Os jornais ainda serão impressos.
Em 2084? Improvável. O papel é um bem muito caro e com uma contraindicação importante ao ambiente, tema que tomou o espaço na agenda global e tem muito mais relevância agora. Mestre Philip Meyer, criador do jornalismo de precisão, já havia previsto que a última edição impressa de um jornal será entregue aos leitores no primeiro trimestre de 2043 (depois voltou atrás, mas enfim).

2. A substância em que os jornais são impressos não será baseada apenas em celulose.
Ahã: aqui Bogart dá um nó na primeira previsão e fala expressamente em “matérias-primas selecionadas para minimizar custos e efeitos colaterais ao meio ambiente”. Mesmo em 2084, é possível que ainda cheguemos lá. Hoje há até o papel reciclado, mas em qualidade muito ruim para jornais impressos.

3. As empresas jornalísticas serão abrangentes fornecedoras de conteúdo, em vez de apenas casas publicadoras.
Sem palavras, isso já aconteceu muito antes da previsão de Bogart. Na mosca.

4. Os jornais vão vender um percentual elevado da informação disponível a eles.
A criação e desenvolvimento da web e uma série de plataformas nos leva a crer que hoje isso também já acontece _conteúdos para a internet, para dispositivos móveis, para rádio, TV, impressos etc.

5. A cor de alta definição será disponível universalmente.
Para jornais impressos? Esqueça. A impressão em cor ainda hoje é um gargalo e um problema para os jornais. E dificilmente se investirá em pesquisa tecnológica para resolver o problema até 2084.

6. Produção descentralizada vai permitir jornais mais atualizados.
Isso já vinha ocorrendo há anos, com grandes veículos sendo impressos em diversas cidades para poder chegar mais rápido aos leitores e, também, circular mais “quentes”. Porém a tecnologia não resolveu o grave problema do horário de fechamento, que recua de forma inversamente proporcional ao avanço tecnológico. Logo, essa atualização a que se referia Bogart ainda não se concretizou.

7. Haverá um renascimento da competição entre os jornais.
Infelizmente, não é o que se vê (nem o que sugere o panorama nos próximos anos). O jornal está metido entre concorrentes mais atraentes, mas rápidos e mais fáceis de manipular e carregar. Entre si, não atraem mais tanto.

8. O sistema de distribuição será competitivo e global.
Sim e não. Aqui Bogart deu a entender que a distribuição física de conteúdo seria facilitada com o avanço da infra-estrutura aeroferrorodoviária, fazendo com que alguns jornais chegassem às bancas “várias vezes ao dia”. Esqueceu-se de problemas que se tornariam ainda mais graves, como o nó no trânsito das grandes metrópoles, que simplesmente impede a entrega de jornais no período da tarde, por exemplo.

9. O jornal vai incluir uma porção considerável de conteúdo personalizado.
Ainda não é global, mas taí o Niiu, o jornal impresso alemão em que cada assinante escolhe as notícias que quer no dia seguinte. Em termos de conceito, Bogart acertou de novo.

10. Os jornais continuarão a ser meios de massas.
Erradíssimo. Todo o oposto,os periódicos impressos caminham para ser um produto caro e de elite, para poucos.

11. O leitor vai pagar mais para ler o jornal, e os anunciantes, menos para bancá-lo.
O aspecto da previsão que fala sobre o produto ficar mais caro corresponde perfeitamente ao movimento que já assistimos agora. Naturalmente, o preço dos anúncios tende a cair se houver menos jornais nas ruas.

12. O conteúdo dos jornais será orientado para um leitor mais sofisticado.
De novo, uma previsão superacertada. O entedimento, tanto do meio acadêmico como o do profissional, é que o leitor de jornais é diferente do usuário de internet. E que o primeiro tende a ser mais seletivo, com maior escolaridade e nível de renda.

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