Editorial

De quiosques e apetite para governar

Sidney Borges
Certo dia do ano santo de 2005 recebi o telefonema de um conhecido empreendedor imobiliário. Fui convidado a ir à Praia Grande ver as obras dos quiosques. Pelos ferros de espera era possivel imaginar mais andares, exatamente o que fora feito do outro lado da estrada em edifícios de 6 pavimentos onde o gabarito permitia 4.

Eu não sou contra a construção na orla. Desde que haja infraestrutura que comporte adensamento o gabarito pode ser flexível. Sou contra que se façam leis para inglês ver. Depois, com jeitinho e a falta de empenho dos órgãos fiscalizadores acontece o caos.

Alguém ouviu falar em esgotos explodindo e contaminando praias?

Acompanhei de perto a polêmica dos quiosques. Até aquele momento, início de 2005, eu acreditava no governo eleito que hoje lamento ter ajudado a eleger.

Poucas semanas depois em um episódio de triste memória foi derrubada uma árvore com o uso de atestado duvidoso, com finalidade política. Entendi com quem estava lidando.

Nas reuniões no paço que decidiriam como seriam os novos quiosques havia um enorme equívoco. Na minha ilusão de estar participando de um fórum que queria solucionar um problema agudo não percebi as cartas marcadas. Os quiosqueiros tinham investido muito dinheiro em reformas, não admitiam perder. De outro lado havia forte pressão da sociedade contra construções nas praias. Deu-se o impasse.

Conversando com um dono de quiosque de quem sou amigo, eu soube que o secretário de assuntos jurídicos da prefeitura havia aconselhado os irredutíveis quiosqueiros a entrar na Justiça. Não demorou muito e acabei ouvindo da boca do próprio a sugestão. Dias depois o secretário foi-se embora e entrou o atual que nada teve a ver com as referidas negociações. Como as coisas demoram a acontecer na Justiça, tudo ficaria esquecido embaixo do tapete. Não sei se os quiosqueiros seguiram o conselho do secretário, sei que o MDU entrou com uma ação contra os quiosques e a coisa ainda se arrasta como cobra pelo chão.

É preciso que se diga que muitos dos permissionários tinham consciência da necessidade de parâmetros, de um deles ouvi que a tentativa de preservar os anéis iria acabar em perda de dedos.

No lúcido comentário de Celso de Almeida Jr. postado no texto do contabilista Luiz Marino Jacob, que versa sobre o tema, está o cerne dos problemas que afetam Ubatuba. Falta de compromisso, amadorismo, incapacidade de resolver problemas.

Acabo de voltar de uma turnê de trabalho no Nordeste. Em Fortaleza tem quiosques. Em Recife tem quiosques. Em Salvador tem quiosques. Em São Luiz tem quiosques. Ubatuba também pode ter quiosques com gente trabalhando ganhando dinheiro e pagando impostos.

Falta apenas organizar o jogo, estabelecer regras e fiscalizar. Vamos ter de usar do expediente oriental da paciência. Três anos passam depressa. Quem sabe o próximo tenha jeito pra coisa...

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