Editorial

Terça-feira, 18h17

Sidney Borges
Ubatuba está incomunicável. Sem internet e telefone. Falta cair o sinal da televisão para que fiquemos do jeito que a elite política local gosta. Isolados. Nestes dias de chuvas intensas tenho recebido telefonemas e e-mails de pessoas que querem saber mais sobre estragos. Publiquei o que saiu no VNews, no Estadão, na Folha e no G1.


Gostaria de ter feito mais, aprofundado as matérias, entrevistado pessoas, contado o drama de quem perdeu tudo. Não foi possível, jornalismo tem custos, minha vida também. Preciso escrever textos didáticos e roteiros de vídeos e filmes para pagar as contas, o que tenho feito com dificuldades, mas sem depender de ninguém.

Nos momentos de folga faço o Ubatuba Víbora para não perder contato com uma das atividades que me sustentou na vida, o jornalismo.

Como diz Millor Fernandes, jornalismo é oposição, o resto são armazéns de secos e molhados. Em Ubatuba qualquer forma de comunicação que aponte problemas não é bem vista. Aqui o que vale é elogiar. Ou morrer. Os donos do poder vivem no passado, entendem imprensa como caixinha de aplausos.

Para confirmar o que estou dizendo basta olhar os jornais que dizem sim, financiados pelo poder. Não fazem mais do que tecer loas à roupa do Rei, ainda que o Rei esteja nu. E atacar desafetos. Aquela meia dúzia.

Já fui vítima de uma das publicações. Não revidei, pois o que estava escrito era verdade. Trabalhei na campanha de um candidato derrotado. Na lógica primária de quem escreveu isso significa que serei derrotado sempre. Não é assim que funciona. Eleições e golpes de estado demandam dinheiro, muito dinheiro. Lula perdeu diversas vezes. O marqueteiro Duda Mendonça, não foi bem com Maluf e ganhou com Lula. Com uma ressalva. A vitória deu-se em um momento em que outros marqueteiros experientes provavelmente também ganhariam. Quero ver Duda eleger Marina ou Ciro sem grana.

Mudando o teor da conversa, jornalismo depende de anúncios. O jornalismo eletrônico não tem custo de produção elevado, mas não pode ser vendido em bancas. A única fonte de receitas são os anúncios. A elite local que poderia financiar uma mídia independente prefere se omitir. Mesmo os progressistas.

Quantas vezes ouvi de prósperos comerciantes: gosto do teu Blog. Leio todos os dias. Mas se eu anunciar vão me perseguir, virão fiscais, terei problemas.

Esse tipo de atitude está me causando prejuízos.

Digo isto porque tenho mais de trezentos acessos por dia, o que me torna um veículo com capacidade de proporcionar retorno. Anunciar aqui não é financiar um órgão essencialmente do contra, o Ubatuba Víbora não tem esse espírito e não terá jamais, é um jornal eletrônico atento aos fatos, publicado na forma de blog por questão de custos.

Com mais recursos os serviços melhorariam haveria a possibilidade de contratar repórteres, redatores, fotógrafos. Ubatuba ganharia. Mas Ubatuba não quer ter uma mídia que toque em problemas. Melhor ficar do jeito que está.

Daqui a três anos entra um novo prefeito. Vai fazer tudo igualzinho. No primeiro mandato é capaz de reformar a avenida e a praça, empregar centenas de correligionários e perseguir desafetos. No segundo, se for reeleito, fará o que o atual prefeito está fazendo.

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