Allegro

Noites Ubatubanas

Sidney Borges
Noite dessas sai caminhando sem destino. Andei pela Rua Maria Alves vazia e molhada de chuva, refletindo o vermelho do semáforo em uma poça tremeluzente. Ao meu lado um desconhecido. Parecia conhecido.

Perguntei: J. B. Tanko? Sim disse ele, gosto daqui. Gosto das praias, das mulheres e de azul marinho sem coentro.

Pensei comigo: também gosto das praias e das mulheres, mas que me perdoem os fanáticos pela tradição, há que haver algum tempero.

Conheço suas preferências disse ele enquanto um carro preto com vidros pretos se aproximou. Deu a impressão de som altíssimo. Parou ao nosso lado.

Pensei em assalto, cacoete de paulistano, mas logo tirei a idéia da cabeça. Saí de casa vestindo camiseta surrada e sandálias havaianas. Completando a deselegância discreta uma velha bermuda da Casa Fernandes. Nada no bolso ou nas mãos.

J. B. Tanko de jaquetão risca-de-giz parecia mafioso. Sem alarde ao perceber minha inquietação mostrou-me o que levava sob o paletó.

Canivete suiço, pente de tracajá e um tubo dourado de lança-perfume Rodouro. Fiquei calmo.

A porta do carro abriu, o som não era tão alto como pareceu inicialmente, não havia sensação de pedreira explodindo.

Na verdade era bem agradável, Chet Baker cantando "I've Never Been In Love Before" (aqui). Foi nesse momento que compreendi. Era sonho.

Dei adeus a J. B. Tanko e Chantal Goya (aqui) que dirigia o Citroen 1957. Ela acenou para mim e partiu ao som de "I Only Have Eyes For You" com "The Platters" (aqui).

Aos poucos acordei com barulho de chuva.

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