Panorama

Guerra à vista?

Sidney Borges
Em 1976 passei férias em Buenos Aires e Mendoza, na Argentina. Viagem interessante e instrutiva. Naquele momento acontecia a tomada do poder pela ditadura que viria a se tornar violenta e sanguinária. Primeiro visitei parentes em Porto Alegre. Depois viajei de ônibus a Uruguaiana e peguei um avião em Paso de Los Libres. Na viagem conheci um simpático franco-argelino que vivia em Buenos Aires. Bertrand, anarquista culto e ilustrado. Vítima da guerra colonialista, perdeu uma perna em combate. Através dele tive contato com gente interessante do país vizinho.

Em uma reunião regada a vinho e papo, acabei marginalizado. Com dois copos acima, falando todos ao mesmo tempo e usando expressões locais, o idioma espanhol virou chinês. Sentei-me em um canto de sala e peguei uma revista que alguém deixara aberta sobre a mesa do abajur, tendo ao lado um copo vazio e um pires com cascas de amendoím.

Comecei a ler um artigo cujo teor foi aos poucos me deixando intrigado. Seria obra de ficção ou alguém ecreveu aquilo imaginando que pudesse acontecer. O autor colocava três possibilidades bélicas para a Argentina.

A primeira tinha o Chile como oponente. As ilhas ao sul do continente, Picton, Lennox e Nueva, também conhecidas como Ilhas do Beagle deveriam ser tomadas à força e ponto final. Em segundo plano estavam as lhas Malvinas, velha reivindicação argentina. Por último o Território das Missões, que incluia boa parte do Paraná.

A revista era publicada pela marinha argentina e o texto da lavra de um almirante. O tempo passou, sempre que eu mencionava o artigo era tomado por maluco. Ninguém imaginava a Argentina atacando vizinhos. No final de 1978 a guerra contra o Chile esteve por um fio, a ordem de suspender o ataque foi dada com tropas argentinas dentro do território chileno. Felizmente não encontraram oponentes e puderam retornar sem baixas.

Fiquei de sobreaviso. Restavam duas possibilidades. Paraná ou Malvinas. Continuei sendo alvo de chacotas até a invasão das ilhas inglesas. O regime precisava da guerra, por sorte nossa escolheram invadir território inglês. Parecia fácil.

Inglaterra ou Brasil. Em qualquer dos casos a guerra jamais seria vencida. A desproporção entre população, parque industrial e PIB deve ter pesado. O Brasil seria uma parada indigesta. Os ingleses moravam longe. Talvez desistissem.

O que me leva a escrever sobre esse passado sombrio são evidências que surgem no horizonte. Chávez fala em guerra enquanto compra armas. Em seu último pronunciamento ameaçou incendiar o continente. (Leia aqui) Chávez pensa que é Napoleão. E não está no hospício...

Twitter

Comentários

Ox Menelau disse…
Chávez precisa buscar uma saída honrosa! Já que afundou a Venezuela em dívidas e tornou o país economicamente inviável, mesmo com tanto petróleo, assolar o país com uma guerra não seria um problema e sim uma maquiagem para a lambança feita. Escombros de antes da guerra e de depois da guerra serão só escombros sem data, não é verdade?!

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu