Opinião

O impasse Brasil-Argentina

Editorial do Estadão
O comércio entre Brasil e Argentina continuará travado por barreiras, porque os presidentes Cristina Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiram, em cerca de duas horas de conversa, resolver as pendências comerciais entre os dois países. Apenas combinaram respeitar as normas da OMC, passando a expedir licenças não automáticas de importação no prazo de 60 dias e em liberar mais prontamente o ingresso de bens perecíveis ou sazonais. Nem sequer o prazo vinha sendo respeitado pelas autoridades argentinas. Se os dois presidentes precisam reunir-se para prometer o cumprimento de uma regra válida para os 153 membros da OMC, para que serve o Mercosul?

Houve muito mais entendimento sobre questões nada urgentes para o bloco. Os dois presidentes concordaram em exigir o retorno do presidente deposto José Manuel Zelaya ao governo de Honduras, falaram de novo sobre a cooperação militar entre Estados Unidos e Colômbia e voltaram a defender a reforma da arquitetura financeira internacional. A solução do problema principal da agenda, a eliminação das barreiras bilaterais, vai continuar sendo discutida. Enquanto não vier, importantes setores produtivos dos dois países continuarão prejudicados, à espera da suspensão de alguma medida protecionista.

A declaração conjunta assinada pelos dois presidentes é inversamente proporcional, em sua extensão, à importância política e econômica dos pontos sobre os quais houve acordo. O documento, com 35 itens, é recheado de retórica sobre compromissos democráticos, apoio ao multilateralismo e palavras a favor de mudanças na ordem mundial. Esse tipo de palavrório é usado habitualmente como complemento, não como prato principal - mas neste caso faltou o prato de resistência.

Todos os pontos complementares estavam mais ou menos acertados e, de modo geral, poderiam ser sacramentados sem uma reunião de presidentes: cooperação no setor farmacêutico, facilitação de trânsito de turistas e colaboração no combate à dengue pertencem à rotina do entendimento bilateral, não à esfera das decisões políticas de nível mais alto - não, pelo menos, quando os envolvidos são dois vizinhos.
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