Opinião

Conservação e crescimento

Editorial do Estadão
Não é preciso escolher entre crescimento econômico e preservação do ambiente. Ao contrário: uma bem orientada política ambiental pode ser um instrumento de criação de empregos e de riquezas. Ao definir a questão nesses termos, o Banco Mundial (Bird) abre espaço para um debate mais produtivo e racional e menos viciado pela paixão e pelo messianismo ecológico. Este é um dos aspectos mais interessantes do novo Relatório de Desenvolvimento Mundial, dedicado especialmente à questão da mudança climática. O texto foi divulgado por ocasião da assembleia anual do banco e do Fundo Monetário Internacional, em Istambul, encerrada na última terça-feira.

Ao apresentar o relatório, o economista-chefe e vice-presidente da instituição, Justin Lin, conclamou os governos a não usar a crise como justificativa para abandonar as ações de proteção do ambiente. O apelo é reforçado pelo exemplo de algumas iniciativas antirrecessão. Alguns governos incluíram nos pacotes de recuperação econômica investimentos de US$ 430 bilhões em políticas "verdes". Metade do dinheiro, US$ 215 bilhões, deve ir para programas de eficiência energética.

Investimentos como esses podem ser muito úteis no fim de uma recessão, porque o emprego tende a crescer, nessas fases, mais lentamente que outros indicadores. As empresas demoram para reabrir as contratações e aproveitam, nas primeiras etapas, o pessoal já disponível. Mas investimentos em eficiência energética podem produzir um triplo dividendo, segundo o relatório: economia de energia, menos emissões e mais empregos, porque tecnologias de baixo carbono são menos intensivas em capital e mais propícias à criação de empregos.

Segundo os economistas do Bird, investe-se muito menos em tecnologia verde do que noutros programas e projetos oficiais. O mundo gasta US$ 150 bilhões anuais em subsídios ao uso de derivados de petróleo e só US$ 10 bilhões de verbas públicas em pesquisa e desenvolvimento de energia alternativa.

Também o setor privado investe pouco em pesquisa e desenvolvimento na área de energia - algo entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões anuais, raramente superando 0,5% da receita empresarial. As indústrias de telecomunicações aplicam em pesquisa e desenvolvimento 8% de seus ganhos e as farmacêuticas, 15%.

Mas também é possível obter resultados importantes sem grandes investimentos. O uso ineficiente de recursos é uma causa importante de poluição. Segundo os economistas do Bird, o consumo de energia na indústria e no setor elétrico poderia ser 20% a 30% menor, com melhores práticas e com tecnologias já disponíveis. Isso permitiria reduzir as emissões de carbono sem sacrificar o crescimento econômico. Além disso, haveria mais incentivo à produção de novas tecnologias se os países ricos se comprometessem claramente com uma redução drástica da emissão de carbono.

As projeções do Banco Mundial combinam dois desafios. Será preciso articular políticas para combater o aquecimento global e para aumentar, ao mesmo tempo, a produção de alimentos. Dentro de 40 anos será preciso alimentar mais 3 bilhões de pessoas. Sem mudança climática, seria possível usar mais terras e a produtividade agrícola teria de crescer 1% ao ano. Com menor expansão de área - para preservação de florestas, por exemplo -, a produtividade terá de crescer 1,8% ao ano, quase o dobro, portanto. A maior parte do aumento terá de ocorrer nas economias menos desenvolvidas, porque a margem para ganho de eficiência é menor nas mais desenvolvidas.
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