Opinião

A destinação do lixo

Editorial do Estadão
Desde domingo o Aterro Sanitário São João deixou, finalmente, de receber lixo, depois de 17 anos de funcionamento e de vários anúncios da sua desativação. Enquanto funcionou, recebia quase metade das 13 mil toneladas de lixo doméstico da capital e acumulou um total de 28 milhões de toneladas de lixo - uma montanha que chegou a 160 metros de altura, o equivalente a um edifício de 45 andares.

No Município da capital não há mais nenhum grande aterro sanitário em funcionamento. Em 2007, o Bandeirantes, localizado em Perus, na zona norte, já havia atingido o seu limite de carga. Hoje, quase todo o lixo doméstico paulistano é exportado para duas áreas nos municípios de Guarulhos e de Caieiras, numa operação cara e criticável do ponto de vista ambiental.

Pelo contrato de concessão, a EcoUrbis - empresa que administra o Aterro São João - arca com os custos da coleta, transporte e destinação final dos resíduos e aguarda, há pelo menos três anos, a licença para a construção de um novo aterro, em área de 435 mil m², vizinha do São João. Uma vez obtida a licença, serão necessários seis meses para a construção do novo depósito e adaptação do terreno.

Burocracia na licença de instalação, danos ambientais e altos custos são os inconvenientes desse modelo de destinação do lixo doméstico - que diminuem consideravelmente com a adoção bem-sucedida da coleta seletiva, como mostram as experiências de cidades dos Estados Unidos, Japão e Europa. Os materiais recicláveis são separados e os de alta combustibilidade (como o entulho de construção) se destinam à geração de energia. Esse sistema é economicamente mais atraente do que os aterros que, embora também possam servir como fontes de energia - com o aproveitamento do metano resultante do lixo -, têm vida útil limitada a 15 anos, em média. Quando o próprio resíduo é diretamente usado na geração de energia, a produção é permanente.

O governo do Estado de São Paulo anunciou, há algumas semanas, que está na fase final a elaboração de um plano para a construção de usinas de incineração de lixo. Pretende-se com isso evitar a construção de novos aterros nas regiões metropolitanas e no litoral norte do Estado. A Emae - empresa estadual para geração de energia - pretende utilizar o lixo para geração de vapor e energia elétrica. Os resíduos resultantes da queima poderão ser utilizados na fabricação de blocos para a construção civil.

Uma usina com capacidade de queimar mil toneladas de lixo por dia custaria aproximadamente R$ 250 milhões. No Brasil, conforme dados da Fundação Getúlio Vargas, a construção de um aterro capaz de receber 2 mil toneladas de resíduos por dia custa mais de R$ 525 milhões. O Aterro São João recebia o triplo desse volume de lixo.
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