Coluna da Segunda-feira

RIO 2016

Rui Grilo
A recente vitória do Rio sobre Madri na indicação para sede dos jogos olímpicos de 2016 tem o sabor de vingança,especialmente para quem já passou pelas humilhações que os latinoamericanos sofrem no aeroporto de Barajas. Mas é bom que se diga que esse tratamento grosseiro e hostil também ocorre em outros países europeus, diferentemente do tratamento que nós, brasileiros, dispensamos aqueles que nos visitam, tentando superar os obstáculos da língua.

O sentimento de orgulho de ser brasileiro foi um sentimento bastante comum e experimentado por todos que participavam de uma recente excursão ao constatarem a qualidade do tratamento e da civilidade em hotéis, restaurantes e outros estabelecimentos de prestação de serviços e de comércio. A demora no atendimento e a forma grosseira causaram irritação em muitos de nós.

Apesar da grande diferença da língua, o lugar onde sentimos um acolhimento afetuoso e mais parecido com a nossa forma de receber visitantes foi na Grécia. Um exemplo dessa atitude foi o fato de um garçom, ao saber que éramos brasileiros, recitar o nome dos nossos maiores jogadores de futebol.

No entanto, talvez a maior decepção do grupo tenha sido encontrar a areia da praia de uma das ilhas gregas coberta de bitucas de cigarro e montes de lixo espalhados pela praia. Nesse momento tomamos consciência de quanto essa consciência ecológica evoluiu no Brasil.

Ao retornar ao Brasil, novamente tivemos que enfrentar as filas e a perda de tempo, muito diferente da eficiência dos aeroportos da Europa. Observando o metrô de São Paulo, pude constatar o quanto é mais bonito, mais rápido e com uma comunicação visual mais adequada, com amplos mapas dos arredores de cada estação. Apesar do metrô de Madri ter uma cobertura muito maior que o paulista, permitindo que o viajante se desloque rapidamente do aeroporto ao centro da cidade, suas estações são mais acanhadas, o número de vagões é menor e o tempo de espera bem maior (cerca de quatro minutos). Perto do nosso, o metrô de Roma parece um ferro velho. Além disso, conta com apenas duas linhas. Segundo o guia, a desculpa para a baixa cobertura é a dificuldade de perfuração de túneis devido à proteção do patrimônio histórico.

Como dizia Sartre “o inferno são os outros” pois até para nos conhecermos o outro é necessário. Uma das coisas que o turismo nos oferece é a contraposição e o distanciamento que nos permitem perceber melhor, tanto os nossos defeitos quanto as nossas qualidades. Normalmente o brasileiro introjeta a idéia de que não tem cultura ou que a sua é inferior à cultura européia ou norteamericana. No entanto, quando vamos à Europa, percebemos o quanto a hospitalidade e o respeito às diferenças são importantes. Talvez seja esse o nosso trunfo em relação à Madri: estarmos mais próximos ao ideal olímpico de construção de um mundo de paz , de fraternidade e de superação dos limites, recebendo a todos de braços abertos, como bem simboliza o Cristo Redentor.
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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