Política

A culpa da imprensa

Carlos Brickmann no Observatório da Imprensa (original aqui)
O ministro da Comunicação, Franklin Martins, falando para o Ministério, ecoou uma idéia muito difundida: a de que a imprensa repercute apenas atos de oposição na crise do Senado. Franklin acha que a oposição aposta na crise como bandeira política e que se apóia na imprensa, que por sua vez se apóia na oposição.

Martins tem razão: a política no Brasil, hoje, não segue as normas americanas ou inglesas (onde a oposição se chama "Oposição de Sua Majestade", indicando que, como a situação, faz parte da elite dirigente do país). A política se transformou num exercício sangrento, onde o importante é vencer, não chegar a soluções que sejam as mais convenientes para o Brasil.

A única objeção que se pode fazer a Franklin Martins, um jornalista competente que sabe observar os fatos, é que esse tipo de política foi exercitado pelos atuais governistas, quando eram de oposição (o próprio senador Aloízio Mercadante, líder do PT no Senado, admitiu que seu partido procurou não permitir que o governo de Fernando Henrique Cardoso tivesse espaço de governabilidade); e, na época, eles não achavam que isso fosse ruim.

O fato é que, seja nos governos anteriores, seja no atual, esse tipo de postura é nocivo ao país. E cria, de um lado, o efeito-manada (os meios de comunicação, munidos por oposicionistas ou por dissidentes governistas de informações e provas sobre irregularidades, comem em suas mãos, abdicando de buscar outros temas e pautas); e, de outro, a tentativa de desmoralizar a imprensa, apontando-a como braço político da oposição. Os dois fenômenos são igualmente nocivos. Ambos conduzem o eleitorado a não acreditar no regime democrático. No caso da tentativa de minar a credibilidade da imprensa, o ataque é direto; no caso do efeito-manada, é indireto, porque conduz a uma enxurrada de escândalos que não se sustentam e não resultam em qualquer tipo de punição.

É engraçado que isso esteja acontecendo no Brasil. Afinal, muitos dos que denunciam hoje o comportamento da oposição fizeram parte de seus quadros, na época em que a oposição era governo. Nelson Jobim, Renan Calheiros, José Sarney, Jader Barbalho, Romero Jucá, Roseana Sarney, tantos outros estão no governo desde Fernando Henrique (e Fernando Collor, o mais recente lulista-desde-criancinha, vem de um governo ainda anterior). Ou talvez seja por isso mesmo que a luta seja tão feroz: eles sabem que, qualquer que seja o resultado, continuarão no poder. Eles são coerentes, estão sempre com o governo. E não têm culpa de que o eleitorado seja tão volúvel e eleja ora um, ora outro.

Twitter

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu