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A adoção do gerúndio na locução acima é válida porque mostra um futuro em relação a outro futuro, com ações diferentes feitas simultaneamente

O bom gerúndio

É preciso cuidado para que o combate ao gerundismo não torne marginais os usos legítimos de locuções com gerúndio

Luiz Costa Pereira Junior
O uso indiscriminado do gerúndio - a endorreia, o emprego viciado de formas como "vou estar passando o recado" - pode estar longe de ser erradicado, mas já tem uma vítima involuntária: o próprio gerúndio.

Uma década depois de o fenômeno se propagar feito gripe pelo país, especialistas começam a perceber que o combate ao uso repetitivo do gerúndio nas perífrases (dois ou três verbos numa locução verbal) criou em muita gente uma aversão a qualquer tipo de gerúndio, mesmo quando este é a forma mais adequada para apresentar uma ideia.

Para a professora de português da USP Elis Cardoso de Almeida, vive-se hoje o efeito colateral das campanhas de combate ao vício, com risco de confusão entre as construções sintáticas condenadas e as de uso corrente.

- Pode acontecer com o gerundismo o que ocorreu com construções como "a nível de", que sofreu retração de uso ao ser discutida intensamente em público. Mas não se pode esquecer que há um uso adequado quando está em jogo a ideia de futuro durativo ou contínuo, como em "Não vou poder entregar o texto pois na ocasião vou estar viajando".

Há quem evite o trenzinho verbal ("vou estar + gerúndio") para não dar ao ouvinte a impressão de que houve má aplicação. O comum, no entanto, é reprimir as perífrases por hipercorreção - corrigir o que se considera erro até quando não há, numa falsa analogia que se imagina correta e requintada, por equivaler a outra.
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