Caro e de pouca serventia



O carro de uma era que terminou

por Paulo Moreira Leite (original aqui)
Sou fã de Impalas, a obra-prima que a Chevrolet criou nos anos 50. Também adoro Cadillacs, carros que são símbolo de luxo e perfeição sobre quatro rodas. São carros que vão sobreviver à concordata da estatal GM. Quem quiser estudar nossa civilização, não poderá ignorá-los.

Já o Hummer, que é este carro que você pode examinar aí acima, era fabricado pela GM e a marca acaba de ser colocado à venda em sua nova gestão. Dizem que um grupo chinês está interessado. Espero que sim, já que 3 000 empregos podem ser salvos. O problema do Hummer não é a realidade. É o que representa.

Nenhum outro veículo tornou-se um retrato tão perfeito do mundo que desmoronou em outubro de 2008.

A colunista Maureen Dowd, do New York Times, disse que o Hummer é o tipo de carro para quem tem tanto dinheiro no bolso que já não sabe o que fazer com ele. O ponto é este: a partir de determinado momento, aquela que foi uma das maiores empresas do mundo passou a ocupar-se do tédio dos milionários, a tentar animar sua falta de interesse e sua necessidade de demarcar diferenças sociais.

Maureen observou que nenhum proprietário de Hummer faria dele seu primeiro carro nem o segundo, nem o terceiro, pois se trata de um veículo para se usar de vez em quando, para causar impressão em determinadas horas, como um parque de diversões para aqueles adultos que tem mais poder de consumo do que a industria consegue atender com produtos padronizados.

Em resumo, é um veículo para ser o quinto carro. Dá para viver num mundo desses?

Versão civil de um veículo que fez muito sucesso na guerra do Iraque, o Hummer pode chegar a R$ 450 000. Embora existam vários automóveis mais caros do que ele — uma Ferrari pode custar mais do que o dobro — o Hummer tem a característica de ser um símbolo sem serventia.

Anda a 134 km/h, o que é um desempenho pífio no quesito velocidade. Atravessa atoleiros com água a 70cm de altura e, com 3,1 toneladas de peso, tem um tanque com capacidade de 159 litros — de óleo diesel. Bom para a guerra, inútil para a paz, um desastre para a economia.

Só podia dar errado, concorda?

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