Opinião

Pressões sobre os salários

Editorial do Estadão
Depois de negociações bem mais difíceis e demoradas do que nos anos anteriores, nos primeiros três meses deste ano algumas categorias profissionais conseguiram fechar acordos com os empregadores que preveem aumento real de salários. Mas acordos com reajuste maior do que a inflação são cada vez mais raros num cenário marcado por queda da produção e das vendas e, sobretudo, por forte pressão sobre o nível de emprego. Em algumas empresas, em troca da estabilidade temporária, os trabalhadores aceitaram até mesmo a redução do salário. Por isso, nos próximos meses, acordos com aumento real de salários poderão ser ainda mais raros.

É um quadro muito diferente do observado nos últimos anos, quando os acordos entre empregados e empregadores previram aumentos reais para a grande maioria das categorias profissionais. Desde o início do primeiro governo Lula, o pior ano foi 2003, quando apenas 19% das categorias obtiveram aumento real de salário. Em 2007, o melhor ano do período para os trabalhadores, 88% dos acordos previram reajustes superiores à inflação. No ano passado, já como reflexo da crise que se instalou a partir de setembro, o índice caiu para 78%.

Em 2009, o resultado não deve ser pior do que o de 2003, previu o coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre Prado de Oliveira, em declarações para o jornal Valor. Mas esse resultado só será alcançado se, nos próximos meses, aumentar de maneira substancial o número de acordos com aumentos reais, o que ainda parece incerto apesar dos últimos sinais de recuperação.

Entre as categorias que conseguiram aumento real estão os vigilantes do Rio de Janeiro (3% mais do que a inflação), os empregados do setor de alimentação de São Paulo (aumento real de 1,18%), os calçadistas do município gaúcho de Sapiranga (0,98%) e os moveleiros de Bento Gonçalves, também no Rio Grande do Sul (0,82%). Em todos os casos, as negociações foram mais complicadas do que em 2008. No caso dos vigilantes do Rio de Janeiro, por exemplo, os trabalhadores ameaçaram fazer greve durante o carnaval, o que ameaçava a segurança no Sambódromo durante a realização de um dos eventos que mais atraem turistas para a cidade.

Outras categorias com data-base nos quatro primeiros meses do ano apresentaram aos empregadores reivindicação de aumentos reais altos, mas, no decorrer das conversações, tiveram de reduzir seus pedidos e, em alguns casos, de aceitar a simples reposição da inflação. Os trabalhadores na indústria de couro de Franca, o principal polo calçadista de São Paulo, por exemplo, queriam 10% de aumento real, mas, depois de 20 reuniões com os empregadores, aceitaram os 6,5% da inflação passada. Entenderam que, na crise que afeta toda a indústria, não perder nada pode ser vantajoso.
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