A crise aqui, lá e acolá

O enterro de 2009

Fernando Canzian na Folha Online
DE NOVA YORK - O FMI (Fundo Monetário Internacional) enterrou de vez hoje qualquer expectativa de saída da atual recessão global ainda neste ano. Na melhor das hipóteses, acredita o Fundo, o mundo sairá do buraco apenas em meados de 2010.


Em um trabalho interessantíssimo, o FMI olhou com lupa todos os ciclos recessivos em 21 países avançados que ocorreram no mundo desde 1960. No total, houve 122 recessões, sendo apenas 15 acopladas a crises financeiras.
Mas apenas três recessões (excluindo a atual) tiveram muitos países envolvidos e sincronizados com uma crise financeira mundial, como ocorre hoje: em 1975, 1980 e 1992.

A análise do Fundo mostra que no caso das recessões "normais" (não sincronizadas entre vários países e sem crise financeira conjunta), o período de baixa dura menos de um ano. E a recuperação posterior pode se dar por um longo período, de até cinco anos.

Mais interessante é que quanto mais nos aproximamos do presente, as recessões "normais" são cada vez mais raras e curtas. Mas isso, infelizmente, não vale para a atual, sincronizada entre vários países e combinada a uma crise financeira também em escala global.

Nesse caso, como ocorreu em 1975, 1980 e 1992, a recuperação pode demandar uma vez e meia mais tempo do que nas recessões não sincronizadas.
Outra característica das três recessões anteriores parecidas com atual é que elas foram provocadas por "boom" na oferta de crédito e nos preços dos ativos (como ações e imóveis), antes de explodir.

Nesse cenário, a recuperação demora mais, pois as famílias e empresas têm de guardar dinheiro posteriormente para recuperar seus níveis de poupança.

No caso atual, a conta é salgada: estima-se que as famílias norte-americanas deviam cerca de US$ 14,3 trilhões até meados de 2007. Hoje, os papagaios seriam equivalentes a quase 150% do PIB norte-americano --ao mesmo tempo em que todos empobreceram com a queda das Bolsas e dos preços dos imóveis.


Pior: no caso da crise atual, o FMI a qualifica como "não usual, severa e duradoura". "Trata-se de uma combinação muito rara", diz Alasdair Scott, economista do FMI que apresentou o estudo ontem.

A boa notícia é que, numa comparação com a chamada "Grande Depressão" dos anos 1930, a atual "Grande Recessão" teria poucas chances de repetir aquele que foi o pior ciclo econômico do século 20.

Segundo o Fundo, a resposta também sincronizada de vários países (com cortes agressivos de juros e adoção gastos trilionários de dinheiro público) é um bom indicativo de que o mundo não entrará em depressão.

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