Opinião

Lula em Nova York

Editorial do Estadão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a Nova York com uma tarefa complicada: vender otimismo aos investidores no meio de uma crise global e tentar atrair capitais para o Brasil. A economia brasileira, disse ele a cerca de 200 pessoas no hotel Plaza, crescerá este ano, apesar da recessão nos países mais avançados. Teria sido mais fácil vender o seu peixe, se no mesmo dia o banco de investimentos Morgan Stanley não tivesse divulgado uma projeção muito ruim: uma retração de 4,5% do PIB brasileiro em 2009. No mercado nacional as expectativas também não eram otimistas. A produção brasileira aumentará 0,59% este ano, segundo a estimativa contida no Boletim Focus do Banco Central (BC), baseado em opiniões coletadas semanalmente no mercado financeiro.

O presidente Lula tentou desqualificar a estimativa do Morgan Stanley, mencionando os erros cometidos pelos bancos na condução dos próprios negócios, foco inicial da crise hoje espalhada pelo mundo. Os investidores podem ou não ter levado a sério a previsão de Lula e muitos classificaram a projeção do Morgan Stanley como exageradamente pessimista. Mas o presidente limitou-se, afinal, a prometer crescimento sem se comprometer com um número. As apostas até renderam alguma discussão, nos intervalos do seminário, mas será essa, neste momento, a maior preocupação de quem tem dinheiro para investir na economia real?

Crescimento econômico e geração de lucro em 2009 podem ser fatores muito atraentes para investidores, mas a segurança e a capacidade de manter a expansão econômica por muitos anos, sem risco de grandes abalos, talvez tenham peso maior nas decisões, neste momento. Investidores informados não dão muita atenção a bravatas. Em vez disso, podem dar mais valor a informações sobre os fundamentos da economia e sobre o rumo da política econômica.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Henrique Meirelles, tentaram mostrar fundamentos sólidos - boa situação cambial, inflação controlada, superávit primário nas contas fiscais e setor financeiro sem maiores problemas. Os dois procuraram mostrar a existência de espaço para ações anticíclicas, tanto na política monetária como na gestão do orçamento.

O quadro orçamentário pode ser bem menos brilhante do que o pintado pelo ministro da Fazenda, mas é de fato administrável, se o governo tiver um pouco de juízo. Respeitada esta condição, o País terá condições de sair da crise não muito machucado e em condições bem razoáveis para voltar a crescer. Isto é mais importante, afinal, do que manter o crescimento em 2009, se este resultado for obtido à custa de um agravamento da situação fiscal e de um maior desequilíbrio nas contas externas.

Os investidores mais informados já haviam feito esta avaliação, aparentemente, antes do comparecimento a Nova York do presidente Lula e de sua comitiva. A principal novidade, para muitos, deve ter sido a presença da candidata do presidente Lula à sua sucessão, a ministra Dilma Rousseff. Ela se apresentou com a imagem de gerente dos programas federais de investimento e mostrou uma relação de projetos abertos à participação do capital privado. Foi uma participação importante, porque ofereceu aos investidores opções concretas de negócios.
Leia mais

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu