O mesmo de sempre...

Ruína intelectual e moral

Antonio Carlos Pannunzio (Clique aqui e leia o original)
O ex-deputado José Dirceu continua a dar demonstrações de que nada assimilou dos acontecimentos que levaram à sua saída desonrosa do governo Lula e à perda do seu mandato parlamentar por falta de decoro. Não consegue livrar-se dos velhos vícios, e parece que faz questão de exibi-los todas as vezes em que emerge do mundo de sombras a que foi confinado. É o caso do uso sistemático da manipulação de fatos como arma da luta política.


A diatribe que o réu pronunciado do “mensalão” assinou neste Blog contra o governador José Serra (“São Paulo, Serra e o governo Lula”, 27/02/09) é, além de uma certidão negativa de caráter, um atestado de inépcia inclusive no manejo dessa arma inqualificável. A eficácia da impostura supõe, se não arte, pelo menos uma certa coerência. Dirceu finge ignorar essa regra elementar. Lança números sobre a capacidade de investimento do estado de São Paulo na tentativa grosseira de provar que resultam ao mesmo tempo da generosidade do governo federal e da incompetência e/ou perversidade do governo estadual.

Erra na soma, além de tudo. Não são R$ 19 bilhões, como ele diz, mas R $ 20,6 bilhões que o governo do estado tem garantidos para levar adiante o mais importante plano de investimentos que São Paulo já viu. Sim, essa soma inclui, além de recursos próprios do tesouro estadual, empréstimos do BNDES e de agências internacionais com autorização do governo federal. Essa autorização é exigência legal. Não é favor. Só o petismo procura enganar a opinião pública com isso. Seria o mesmo que dizer que as casas Bahia fidoam as geladeiras que financiam aos seus fregueses. Ora, como o consumidor que compra nela, o contribuinte paulista pagará e os empréstimos que governo do estado contrai refletem sua capacidade de endividamento, graças à austeridade rigorosa de sucessivas administrações do PSDB, culminando com o governo Serra.

A austeridade continua. Por isso, como uma medida de cautela diante da crise econômica e suas inevitáveis repercussões sobre a receita estadual, o governador contingenciou R$ 1,5 bilhão do orçamento de 2009, sem afetar nem um centavo das áreas de saúde, educação e segurança, ao contrário do que Dirceu afirma, e nem um centavo dos investimentos. O governo federal, este sim, contingenciou investimentos. Diferentemente do PAC, que é um plano de aceleração da propaganda oficial sobre uma lista aleatória de obras, o programa estadual é um conjunto criteriosamente articulado de investimentos que vai ao encontro das principais necessidades de São Paulo, principalmente em infra-estrutura.

Além disso, as medidas anunciadas pelo governador Serra incluem estímulos diretos aos setores privados geradores de emprego. Há um aumento importante da oferta de crédito para microempresários. As compras de bens duráveis (veículos, computadores, móveis) previstas para 2009 estão sendo antecipadas para o primeiro quadrimestre, assim como o programa de reforma de escolas, delegacias de polícia e outros prédios públicos. Tampouco os recursos para a Agência de Fomento estadual estão contingenciados – outra afirmação falsa do ex-deputado.

“Não há medidas novas”, ele reclama. Mais impostura. O governador anunciou dezessete novas medidas, muitas delas com eficácia imediata e outras com cronograma definido. De forma transparente, e para explicar a totalidade da ação do estado no combate à crise, foram mencionadas, de forma muito clara, outras medidas já anunciadas.

A lista é longa e a contestação item por item seria tediosa. Mas não posso deixar de citar uma falsidade que tendo a debitar mais à fragilidade intelectual do ex-deputado - atual "consultor de empresas" (sic) - do que à vontade deliberada de distorcer. O governador do estado falha, ele diz, quando a crise “atingiu principalmente São Paulo, com a desaceleração da economia e a concentração no Estado de 44% do desemprego total registrado no país”. Fato gravíssimo: então a crise fez com que 44% dos desempregados do Brasil se concentrassem em São Paulo?

O “consultor de empresas” apenas “esqueceu” de mencionar que São Paulo há anos concentra 43% da população economicamente ativa das áreas metropolitanas cobertas pela pesquisa de emprego e desemprego do IBGE. Ou seja, a mesma proporção de pessoas empregadas ou procurando emprego. Da mesma forma ele poderia ter dito que São Paulo “concentra” a maior parte dos óbitos e dos nascimentos, pela simples razão de que é o estado mais populoso.

Por último, mais uma vez de forma enganosa, o ex-deputado finge desconhecer a forma desastrada com que o presidente Lula enfrentou a crise, desde os primeiros sinais, no início de 2008, e depois de deflagrada no mês de setembro. Primeiro, a bazófia (“Bush, meu filho, resolve tua crise”, afirmou em março de 2008); em seguida o deboche (“Essa crise não é minha, é do Bush”, em novembro do mesmo ano). No entanto, como se sabe, já eram visíveis os impactos da crise, a começar pela vertiginosa saída de capitais externos, mas o presidente Lula persistia em não enxergar a realidade. No sentido oposto de uma postura responsável, convocou os brasileiros ao consumo em vez de alertá-los para eventuais dificuldades, manteve sua política de aumento dos gastos públicos correntes e, até o momento, não apresentou um plano anticrise capaz de amenizar os efeitos dessa crise sobre a economia do País.

Além do desemprego crescente, os resultados dessa visão caolha do presidente Lula e de seus ministros estão expressos nos dados recentes que o IBGE divulgou. O IBGE, fique claro, e não a “imprensa golpista”, como de hábito alega o PT quando se depara com notícias dessa natureza.
Antonio Carlos Pannunzio é deputado federal pelo PSDB-SP, membro da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

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