Luiz Inácio falou

À margem de Lula

por Daniel Piza (original aqui)
Segue abaixo a
reportagem do portal Estadão sobre o que o presidente Lula disse em encontro com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Meus comentários estão em itálico:

"Ao lado do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira, 29, que as decisões políticas neste momento de crise são mais importantes que as econômicas. 'Ele (Gordon Brown), outros líderes mundiais e eu sabemos que o momento exige decisões políticas profundas mais fortes que decisões econômicas que viermos a tomar', afirmou. Lula reforçou que a crise financeira internacional foi causada e fomentada por 'gente branca, e de olhos azuis', numa referência a especuladores estrangeiros, de países do primeiro mundo.

Eu não sabia que a crise era uma consequência de atributos étnicos ou genéticos. Quer dizer então que os especuladores da Bovespa - pouquíssimos de olhos azuis - ou os banqueiros do Japão não têm culpa? Eles não investem nos Estados Unidos?

"Lula rebateu afirmações de que haveria questões ideológicas nas suas avaliações sobre a crise financeira mundial. 'Não existe questão ideológica, existe um fato que mais uma vez percebe-se que a maior parte dos pobres que sequer participava da globalização estava sendo uma das primeiras vítimas da crise. O preconceito que vejo é contra os imigrantes nos países desenvolvidos', afirmou o presidente ao lado de Brown.

Se os pobres não participam da globalização, como podem ser vítimas da crise financeira internacional? E quem disse que são eles os que mais estão perdendo? EUA, Europa e Japão são os que mais perdem crescimento e emprego no momento. China, Índia, Rússia e Brasil também sofrem, mas o enriquecimento dos BRICs, a emergência de suas economias nos últimos dez ou vinte anos, se deve em grande parte à globalização, à abertura comercial e financeira. Chineses vendem produtos para o mundo todo, indianos organizam call-centers para anglo-americanos, etc.

"Lula citou que no Brasil o governo decidiu regulamentar a permanência dos bolivianos. 'Porque não se pode jogar nas costas deles a responsabilidade de uma crise que foi causada por poucos.' E completou: 'Não conheço nenhum banqueiro negro ou índio. Só posso dizer que as pessoas desta parte da humanidade foram as maiores vítimas do mundo e elas não podem pagar por isso.'

Banqueiros negros nos EUA poderiam ser apresentados a Lula, que certamente já conhece presidentes de ascendência indígena em seu próprio continente. Regulamentar a permanência de bolivianos que vivem em sub-empregos em metrópoles como São Paulo não tem nada a ver com protegê-los da crise. Se eles ganham algo ao migrar, também perderão algo quando o país escolhido enfrentar problemas. Vitimizar a América Latina e a África, culpando exclusivamente o mundo desenvolvido por seu subdesenvolvimento, é ignorar boa parte da História - e ignorar Economia, porque a riqueza do tal "Primeiro Mundo" moderno não depende da espoliação das matérias-primas da tal "Periferia". Já há bom tempo que os povos escolhem seus destinos sem interferência alheia. Lula vive mentalmente nos anos 60, ou antes disso.

Em declaração à imprensa, no Palácio da Alvorada, o presidente voltou a defender a regulação do sistema financeiro internacional. 'Não é possível uma sociedade em que você entra no shopping ou no aeroporto e é filmado, sempre vigiado, e o sistema financeiro não ser vigiado e não ter uma regulação', afirmou.

Uma coisa não tem nada a ver com outra. Aeroportos e shoppings filmam os ambientes por questão de segurança. Regular o mercado financeiro não é botar uma câmera em cima de cada operador, mas criar normas e sanções para que créditos sem sustentação não sejam passados adiante.

Para o presidente, a crise financeira é uma febre que atinge todos os países. Ele defendeu maior participação do Estado na busca de melhorias para a sociedade. 'É preciso que o sistema financeiro se reeduque e trabalhemos para incentivar o setor produtivo', afirmou. 'Temos consciência de que é preciso fortalecer as instituições de financiamento', acrescentou.

Não acrescentou, na verdade. Disse o óbvio, sem propostas concretas, como sempre. Reaproximar o sistema financeiro do setor produtivo não é uma mera questão de "vontade política". É um tanto mais complexo.

"(...) Lula não demonstrou ânimo em relação à eficácia do pacote econômico apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que prevê um aporte de US$ 1 trilhão para compra de ativos considerados 'tóxicos'. 'Se o Obama tomou a decisão pensando no melhor para os Estados Unidos, ótimo. Espero que dê certo', disse. 'Mas acho que não podemos usar o pouco dinheiro que nos resta para comprar títulos que aqui chamamos de podres', completou.

O governo Lula já fez isso por muitas empresas, inclusive bancos. Comprar títulos podres não é para passar a mão na cabeça de banqueiros que especularam irracionalmente nos últimos anos, mas para proteger os direitos dos cidadãos que tomaram empréstimos para comprar casas, por exemplo, e para garantir a solvência geral do sistema bancário.

"Lula afirmou ainda que entre os problemas que precisam ser enfrentados no mercado interno é o spread bancário. 'Subiu demais', disse."

De fato, o spread bancário no Brasil é um exemplo para o mundo...

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