Colunas do Ubatuba Víbora

Qual é sua sede? Qual é sua fome?

Maurício Moromizato
Bebida é água!

Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...

Inicio a coluna de hoje com o trecho inicial da música “comida”, dos Titãs em sua fase áurea. Recentemente, Marcelo Mirisola, colunista aqui do “Víbora”, escreveu uma coluna comentando um filme de Branco Mello, que retrata a história dos Titãs. Coluna bastante crítica, que me deixou um tanto quanto desconfortável visto que minha adolescência teve os Titãs como ícone e voz, ao lado dos Paralamas do Sucesso, da Legião Urbana, do Barão Vermelho, entre outros do rock nacional. Além é claro, da MPB de Chico Buarque, Milton Nascimento e todos os mineiros do Clube da Esquina, etc. Para quem já passou dos quarenta e vira e mexe se questiona sobre a vida, ler uma crítica a um de seus antigos ídolos e perceber que fazem sentido é deveras provocante...

Mas a relação dos Titãs com a coluna de hoje veio justamente após ler a crítica e no mesmo dia comparecer à ACIU para reunião com o Secretário de Turismo. Lá, o que se ouviram foi muitas reclamações dos empresários de Ubatuba, a respeito do trânsito, da segurança (falta de), fiscalização, saneamento (falta de), atuação da Sabesp, e outras. Já escrevi sobre isso aqui nesse espaço. Ali se evidenciaram a “fome e a sede” dos empresários de Ubatuba, principalmente os do setor turístico. O secretário prometeu empenho, o que é insuficiente para saciar a “fome e a sede” que lhe foram apresentadas.

E aí, me veio à cabeça: quais outras formas de fome e sede têm aqui em Ubatuba?

Certamente os jovens têm uma fome imensa por oportunidades de trabalho, uma sede inesgotável e justa por atividades esportivas, por lazer, cultura e educação;

Os Pais anseiam por melhores dias para o trabalho, por oferta de educação de qualidade para seus filhos, temendo a fome do desemprego e a sede de recursos para as famílias;

Os cidadãos da melhor idade saciam a sede de atividades com ginástica, caminhadas, atividades específicas para sua faixa etária, mas alguns têm fome por uma saúde pública de melhor qualidade, por uma aposentadoria que lhes garanta o merecido descanso, por mais segurança nessa fase da vida que deve ser insegura por si só;

Os trabalhadores têm sede de atividades turísticas por todo o ano, fome pela reativação da construção civil, estímulo a atividades industriais específicas para nossa realidade;

Nos bairros da cidade, muitos deles (bairros), literalmente passam sede de água tratada e de esgotamento sanitário; outros têm fome de infra-estrutura como calçamento de ruas, postos de saúde, lazer e cultura;

Sem contar a fome pela PAZ e a sede de JUSTIÇA, componentes de uma luta universal, mas com sua repercussão local, frutos de uma sociedade em guerra consigo mesma e de uma justiça que ainda proporciona privilégios inaceitáveis. Não sem propriedade, a campanha da fraternidade de 2009, da igreja católica, convida a refletir e agir sobre o tema “A paz é fruto da justiça”.

O fato é que qualquer que seja a “fome e a sede” de cada um de nós, individual ou coletivamente, a solução está inserida no contexto da sociedade em que vivemos. No nosso caso, Ubatuba. Isso significa que não existem soluções isoladas e individuais para os problemas apresentados, inclusive de alguns que nos atingem de maneira pessoal.

Por isso temos que participar. Da escola, da igreja, de clubes, de comunidades, de associações de bairro, associações de classe, da política e dos partidos políticos. Está tudo envolvido e estamos todos no mesmo barco. Local e universalmente falando. Só dá para obter ajuda nos nossos problemas se ao mesmo tempo estivermos ajudando outros a resolverem os seus. Contribuir, conquistar, compartilhar, conviver, tolerar, celebrar...

Como você leitor vem agindo coletivamente? Como vem participando da vida da cidade? Como está ajudando a terminar com a “fome e a sede” de Ubatuba?

E qual a sua sede? Qual a sua fome? Você tem procurado ajuda?

A crise mundial e a crise local estão interligadas, são na verdade uma crise da humanidade, muito mais que uma crise financeira e está mudando a ordem até aqui vigente.

Os sinais vêm sendo emitidos há tempos. Acabei de ler uma trilogia de Leonardo Boff denominada “Virtudes para um outro mundo possível”, em que é colocado magistralmente que hoje somos uma única família (a dos humanos), vivendo na mesma casa (a terra) e que com a globalização temos a oportunidade de estabelecer uma nova ordem, baseada na “hospitalidade”, na “convivência, respeito e tolerância” e na “comensalidade”, com todas as nuances que tais títulos propiciam desenvolver.


Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

QUAL A SUA SEDE?
QUAL A SUA FOME?
Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontadeNecessidade, desejo
Necessidade, vontade
Necessidade...

Aos leitores, uma última referência, relacionada ao tema, mostrando a necessidade da participação de cada um, expondo idéias, tecendo críticas e fazendo sugestões: “quem não chora, não mama”.

Comentários

Anônimo disse…
Falando sinceramente. . . desta vez gostei do artigo q expressa algum sentido, sem aquele discurso apelativo. Parabens, caro Moromizato, se continuar escrevendo dessa forma opinativa e elucidativa, q agrega...estou dentro.

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu