Clodovil

Lembranças

Sidney Borges
Nos anos finais da década de 1960 a rua Oscar Freire era elegante, sob certos aspectos mais elegante e menos pretensiosa do que hoje. Perto da Augusta, olhando do ponto de vista de quem desce, havia dois marcos paulistanos. Do lado direito a loja do Altêmio Spinelli, com visual elaborado de Ricardo Ohtake.

Do lado esquerdo, no quarteirão do Cine Paulista, a lanchonete Frevo, para mim a melhor que há, jamais encontrei um sanduiche que me proporcionasse prazer equivalente ao do beirute de carpaccio do Frevo. O que é interessante é que a casa continua no mesmo lugar e com a decoração original, fato raro neste país onde tudo é tão fugaz e transitório.

Nesse quarteirão, do mesmo lado do Frevo, Clodovil teve um ateliê, uma casa imponente com arcos na fachada e letreiro em aço escovado onde se lia Clodovil Hernandes, tudo discreto e elegante.

Em posição quase equidistante ao Frevo e ao ateliê de Clodovil situava-se o Beka, salão que cuidava da beleza das elegantes. Clodovil tinha um Mercedes Benz conversível e circulava com seus cabelos "chanel" ao sabor do vento pelas ruas quase vazias dos Jardins, eu o via sempre, ele também me via, nunca falamos.

Em anos posteriores tivemos amigos comuns e freqüentamos a mesma casa noturna, o Cave, na rua da Consolação, pertinho da praça Roosevelt.

Nos últimos tempos por morarmos na mesma cidade estávamos sempre nos encontrando, mas embora tenhamos tido tanta proximidade geográfica, nunca trocamos mais do que uma ou duas frases.

Clodovil me surpreendeu como deputado, entrou na vida pública com aura de folclórico e logo entendeu que havia uma gramática a ser decifrada. Soube pelos assessores que ele estava começando a estudar política profundamente. Tenho certeza que Clodovil seria um grande parlamentar, ele que foi um vencedor em todas as atividades que exerceu.

Lamento a morte do Deputado, Ubatuba perdeu um grande amigo.

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