Opinião

No meio dos lixões, importando lixo

Washington Novaes
É um assombro ler no jornal (Estado, 13/2) que há uma crise na coleta seletiva de lixo em São Paulo e que a maioria das cem cooperativas de catadores reduziu em dois terços suas atividades, por causa da queda brutal nos preços dos produtos que vende. Nem é preciso ser muito informado para deduzir que se agravará o problema da coleta geral do lixo na cidade, que produz mais de 12 mil toneladas diárias de resíduos domiciliares e comerciais e está com seus aterros esgotados. E o próprio coordenador da coleta seletiva admite que pelo menos 20% do que já vai para aterros seria reaproveitável. Desperdício que vai aumentar, já que os catadores, no País, respondem pelo encaminhamento às empresas recicladoras de cerca de um terço do papel e papelão, uns 20% do plástico e do vidro, mais de 90% das latas de cervejas e refrigerantes.


Tudo fica ainda mais difícil de assimilar quando se raciocina que, com uma crise de recursos como a que engolfa o planeta, materiais mais baratos (como os reaproveitáveis e recicláveis) deveriam, em princípio, ser valorizados. Da mesma forma, quando se lembra que em grande parte do mundo aterros nem podem mais existir, pela legislação - enquanto nós continuamos a depositar em lixões a céu aberto mais de metade das 230 mil toneladas recolhidas a cada dia (IBGE); e pouco mais de 10% chega a aterros adequados. E ainda não é tudo. Este jornal informou também (2/2) que a construção civil gera na cidade 17 mil toneladas de resíduos por dia e que parte deles vai para 1,4 mil pontos irregulares, fora dos "ecopontos". Só 1% dos resíduos é reaproveitado (90% na Holanda). E provavelmente nada se resolverá tão cedo, já que a licitação para quatro aterros de entulhos (124 mil toneladas/mês) está embargada pelo Tribunal de Contas do Município, uma vez que o preço ali previsto está 34% acima do que é pago hoje.

Não é só São Paulo que sofre. Praticamente todas as grandes capitais brasileiras estão com seus aterros esgotados. Coleta seletiva é exceção rara. E, no entanto, como já se comentou aqui, a maior parte do que vai para aterros poderia ter uma destinação mais adequada. Um estudo universitário mostrou que 91% do lixo aterrado em Indaiatuba (SP) poderia ser reciclado ou reaproveitado. E é assim em toda parte.

Mesmo em áreas em que poderíamos estar tranquilos vivemos às voltas com situações dramáticas. Agora, por exemplo, o Brasil pode sofrer retaliações da União Europeia (Estado, 26/12/2008) por não cumprir o prazo concedido pela Organização Mundial de Comércio (OMC) para unificar a legislação que proíbe a importação de pneus usados. O prazo terminou em novembro, mas o governo brasileiro não conseguiu derrubar na Justiça liminares das recicladoras que lhes permitem a importação de milhões de pneus a cada ano - com o argumento de que o País permite a entrada de pneus do Uruguai e Paraguai, porque um Tribunal Arbitral do Mercosul assim o exige (embora a Argentina não cumpra a "exigência"), segundo o Itamaraty. A Europa tem altos interesses em jogo na questão, porque a cada ano são descartadas ali dezenas de milhões de pneus usados, para os quais não há destinação. O curioso é que temos legislação a respeito: o Conselho Nacional do Meio Ambiente não só não permite a importação como obriga os fabricantes locais de pneus a receber de volta um número maior do que o fabricado. E o Ministério Público Federal é pela proibição de importar.
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Comentários

Anônimo disse…
Caro Editor,

Eis aqui nesse artigo do Estadão q fala das imensas difuldades estruturais e econômicas para o problema do lixão, aterro sanitário, destinação final do lixo, coleta seletiva e reaproveitamento dos recicláveis no Estado de SP e outros cantos do país. Os alarmistas da tese do "lixo zero", em Ubatuba, pensam q é fácil...! q resolve com uma canetada do Executivo ou do Legislativo? santa ingenuidade...tudo não passa de discurso de pestistas derrotados nas urnas para manter na mídia e no foco imaginário da população. Esse disco de tanto tocar já está velho e riscado. Para mim, não tenho dúvida, é politicagem de palanque. Por falar nisso, embora não sou eu porta voz de ninguém, quero lembrar a todos, q hoje tem a prstação de contas públicas do Executivo, como manda a lei, no novo plenário do legislativo municipal, na rua Hans Staden. E, não do jeito como alguns acham, q formulam questionamentos via mídia...?! Ledo engano. Mas por via legal, mediante requerimento protocolizado ou mediante pedido de informação de seu representante eleito no legislativo. Essa gente parece q não lê a CF, não lê a Lei Orgânica do Município, nem a Lei de Responsabilidade Fiscal. Depois acham q o Estado tem q faer tudo por eles. Dou uma dica aos políticos e adeptos do PT, para não aprofundar o meu comentário...por favor, pesquisa e faça uma leitura sobre o pai da ideia do terceiro Estado (participação popular), pq James Madison e Emmanuel Joseph Sieyés, há séculos difundiram a ideia q não queriam um governo democrático participativo e sim governo democrático...??? Isto vale uma discussão em Mesa redonda, com pizza a la portuguesa e pasteis fritos, com recheio de bacalhau ou camarão e brindemos com pro seco...hehehe!!!

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