Coluna da Segunda-feira

Sim, nós podemos!

Renato Nunes
Com essa afirmação repetida milhares de vezes Barak Obama foi eleito Presidente dos Estados Unidos, país em que até poucos anos atrás, pelas mãos da Ku-Klux-Kan, encapuzados covardes e racistas assassinavam com exageros de torturas os negros americanos.

A história é longa e triste, mas deixou exemplos interessantes de superação. Como será que deram a volta por cima de tanto preconceito e resistências políticas? Com toda certeza foi a força coletiva, a força do empenho da população quando encontra motivação real para superar suas angústias e gritar por uma renovação.

Pensei nisso no sábado quando aproveitei um pequeno descanso e o ótimo dia para revisitar a praia do Puruba à qual eu não ia há muito tempo. Ao sair do mar e olhei para a mata fiquei deslumbrado com a total massa verde de floresta tropical que eu tinha diante dos olhos.

Imediatamente me lembrei dos anos de chumbo quando o poder econômico da ditadura decidiu criar uma cópia da Costa Azul francesa aqui, no nosso litoral entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Não perguntou nada a ninguém e em meio aos protestos dos arquitetos paulistas e cariocas o governo lançou o Projeto Turis e abriu a Rio Santos, passando por cima de praias, cachoeiras, comunidades, deixando cicatrizes que até hoje nos incomodam.
O bairro da Estufa por exemplo, era um só, virou Estufa I e Estufa II separadas por um aterro elevado que represou a drenagem natural que vinha da serra. Em cima dele plantaram a rodovia.
Ninguém podia contestar o General Médici e seu ministro dos Transportes General Mário Andreazza. Deram com isso, início ao processo de extinção da cultura caiçara e muitas outras coisas mais.

Nos bastidores dessa loucura discutia-se o velho e eterno conflito armado do Oriente Médio. A indústria brasileira de armamentos produzia e exportava tanques, veículos blindados e armamentos a bom preço para que se matassem. O conflito era promissor, prenunciava muitas vendas por um longo período.

O Brasil militar não poderia perder essa boca. Além do que, existe uma lógica diabólica nos tempos de guerra que afirma que o esforço bélico desenvolve novas tecnologias que servirão à população em tempos de paz. Então vamos alimentar a guerra, pensaram nossos estrategistas tupiniquins. Decidiram instalar no paraíso uma indústria de armamentos e explosivos. Escolheram um local amplo, à beira mar, servido por magnífica rodovia : o Sertão do Puruba!!!

Só não contavam com a revolta da população. Porque destruir a futura indústria do turismo, colocando Ubatuba nos mapas bélicos do mundo todo, cadastrando nossas praias como alvo produtor de armamentos? Essa indignação cresceu, os jornais começaram a comentar dentro dos cuidados conhecidos, os abaixo assinados se multiplicaram e TODOS os setores da comunidade ubatubense se engajaram nos protestos. Nasceu o MDU, Movimento em Defesa de Ubatuba. Esses depoimentos precisam ser colhidos porque ainda existem pela cidade alguns grandes cidadãos de Ubatuba que lideraram com coragem esses protestos.

A gritaria foi tanta que a AVIBRÁS, a fábrica de armamentos que comprou o sertão do Puruba, desistiu da empreitada.

Independente da euforia pelo êxito alcançado, a comunidade de Ubatuba constatou a fragilidade da Serra do Mar, suas encostas e florestas, diante da implantação da Rio Santos. Após um extraordinário seminário promovido pelo MDU que reuniu personalidades, cientistas e professores do Brasil todo foi decretado pelo Governo do Estado o Tombamento da Serra do Mar.

O que veio depois todos já conhecem, a burocracia governamental, o aproveitamento político e a inércia interesseira das sucessivas administrações descaracterizaram os princípios de preservação que alimentaram tão grande manifestação popular. Hoje uma visão urbanística e social medíocre disciplina os processos de licenciamento e ocupação do litoral. O Plano Diretor aprovado há dois anos e que aborda com realismo essas questões, sequer produziu a nova lei de uso do solo como instrumento básico para sua regulamentação.

Temos muita coisa preservada como o Puruba, mas a expansão da ocupação clandestina e a falta de bons empreendimentos que se utilizem da preservação como alavanca geradora de empregos e recursos é grave.

Cabe a nós, população, mudar as coisas. Acho que nós também podemos.

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