Ubatuba em foco

Já se falava em planejamento, mas não se prosseguiu com a discussão

Ednelson Prado
Ao ler o artigo escrito pelo competente Renato Nunes, me veio à cabeça algo interessante e que me fez relembrar algumas poucas passagens de Ubatuba e que se tivessem sido levadas adiante, talvez tivessem resultado em algo proveitoso para o município e sua gente.
Me recordo que ainda garoto, na casa dos 18 anos, iniciei minhas atividades como operador de áudio da Rádio Costa Azul – em tempos em que a emissora era atuante, decisiva, quanto aos assuntos da cidade. Minha passagem pela área técnica durou pouco (nunca tive muita paciência para ficar seis horas sentado à uma mesa), então fui levado para o departamento de jornalismo, por iniciativa do colega Marcelo Mungioli.
Bem, com poucos meses no departamento de jornalismo comecei a trilhar os caminhos que o microfone traçava. O programa Ponto de Encontro era o mais importante da emissora e desempenhava um papel ainda maior para a cidade. O herdei e, com certeza, foi uma de minhas melhores experiências, afinal, tinham passado por lá nomes como o saudoso Cícero Gomes e o grande amigo Clodoaldo, o Dodinho, e por alguns anos fui responsável pela sua condução.
Mas o que mo trouxe a escrever esse texto antecede ao momento em que passei a ancorar o programa. Ele ainda era conduzido pelo amigo Dodinho quando, por sugestão do ex-prefeito José Nélio de Carvalho, Benedito Góis e Eduardo de Souza Neto, à época gerente da emissora, que o programa passou a ter, se não me engano, uma vez por semana, um espaço específico para discutir o futuro de Ubatuba no ano 2000. Confesso que não me lembro do nome específico que foi dado ao quadro, já que isso ocorreu no início dos anos de 1990, quando a emissora reunia autoridades para discutir as questões de planejamento da cidade, para que o desenvolvimento ocorresse de maneira sustentável, para que o futuro fosse menos drástico com a cidade e seus moradores. Recordo-me que o arquiteto Renato Nunes participou de algumas dessas discussões. Já naquela oportunidade, ele falava da importância do plano diretor, desde a elaboração até a sua aplicação. Infelizmente, como foi dito por Renato em seu artigo, as discussões não avançaram, as práticas, muito menos.
É uma pena, o futuro chegou e Ubatuba, que poderia ter saído na frente ficou para trás e hoje colhe frutos não tão saborosos como poderia, pelo potencial turístico que possui. E tudo isso por falta de competência de nossos governantes, em especial de boa parte dos vereadores que estiveram à frente do legislativo local, muito mais preocupados em pagar contas de água e luz dos eleitores, trocar nomes de ruas e defender interesses pessoais, do que com a cidade e seu futuro. Pior: muitos desses por aí estão, seja ocupando cargos no legislativo, seja na prefeitura.
Mas esse não é o único exemplo de oportunidade que Ubatuba perdeu de se discutir, planejar e se preparar para o futuro.
Muita antes disso, quando tinha apenas 13 para 14 anos, estudava na rede municipal, na Escola Padre José de Anchieta, que se antecipava e mantinha em sua grade curricular matérias importantes, como História e Geografia de Ubatuba e Educação Ambiental. Ou seja, muito antes do momento delicado pelo qual atravessa o planeta, já se discutia a importância da preservação do meio ambiente. Muito antes de se discutir todo o planejamento que é necessário para o desenvolvimento do turismo de Ubatuba, se mostrava aos alunos daquela escola a importância da cidade para a história do Brasil. Me recordo que a história nos era passada pelo então professor Cícero Assunção, que, apesar de ser advogado, se esforçava para passar seus conhecimentos sobre os acontecimentos da cidade. Durou muito pouco, não me recordo se um, dois, ou três anos, mas pouco, diante do que poderia ser feito na formação dos moradores da cidade, que hoje trabalhariam por um turismo mais organizado e mais eficiente e lucrativo. Mas não apenas um lucro financeiro, mas um lucro de imagem e respeito. Hoje, com certeza, são poucos os que sabem a importância das datas significativas. Eu, particularmente, vejo o dia 14 de setembro, a Paz de Iperoig, como um dia que deveria ganhar reconhecimento nacional, mas que por falta de quem lute por isso, não passa apenas de um feriado municipal.
Ou seja, não foi por falta de oportunidades que Ubatuba não se preparou para o presente, foi por falta de competência e visão de boa parte dos governantes. Quanto à população. Bem, ela até tem sua parcela de culpa, mas é difícil cobrar daqueles que tem de matar um leão por dia para garantir a sobrevivência.
Ednelson Prado
Jornalista

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