Opinião

A verdadeira face do presidente

Carlos Alberto Di Franco
Recente decisão "soberana" do presidente da República, somada às suas últimas declarações, aqui e lá fora, perfila com nitidez a verdadeira face de Lula: um líder ideológico e autoritário.


Ao conceder asilo político ao terrorista italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua em seu país pelo assassinato de quatro pessoas nos anos 70, Lula invocou o conceito de soberania nacional. "A decisão do Brasil neste episódio é soberana", disse, em Corumbá, ao lado do presidente Evo Morales, da Bolívia. Lula alegou que o Brasil é "generoso" e Battisti foi sentenciado por crime antigo. "Quem o acusou nem existe mais para ser comprovada a veracidade do fato. Passado tanto tempo, ele já é outra pessoa, é um escritor", concluiu.

A generosidade presidencial, contudo, é seletiva. Atletas cubanos, fugitivos da "democracia" dos irmãos Castro, receberam tratamento bem diferente: foram deportados sob a surrealista alegação de que, de fato, desejavam ardentemente retornar à casa paterna.

O ministro Tarso Genro, braço do presidente Lula para operações ideológicas mais escancaradas, contrariou recomendações do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que defendera a extradição do criminoso italiano, e desprezou o parecer do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) - órgão do Ministério da Justiça -, que negara o pedido de refúgio de Battisti. Assumiu, além disso, o lamentável papel de corregedor da Justiça italiana, criticando a forma como Cesare Battisti fora julgado e condenado em seu país. Disse ele que o italiano "pode não ter tido direito à própria defesa, já que foi condenado à revelia". A Itália, ao contrário de Cuba, vive em plena democracia, suas instituições funcionam e o direito de defesa é amplamente garantido. Não teria sido mais prudente devolver Battisti e deixar a própria Justiça italiana decidir sobre a conveniência ou não de reabrir o processo?

A justificativa do ministro da Justiça, que provocou visível constrangimento no Itamaraty, não apenas arranha a imagem do Brasil. É mais grave. Desnuda as verdadeiras intenções de um governo com perfil autoritário e recorrentes sonhos de perpetuação no poder.

A opção ideológica do presidente da República, intencionalmente camuflada pela habilidade do seu marketing político, não consegue impedir alguns rompantes de sinceridade. Foi o que aconteceu no recente giro eleitoral de Lula em prol dos caciques bolivarianos. O presidente da República, que diz que não quer para si um terceiro mandato, não poupou elogios à tentativa de reeleição indefinida do presidente Hugo Chávez. Lula, ostensivamente, assumiu o papel de cabo eleitoral dos caudilhos do continente. Foi à Bolívia dar um ânimo à campanha de Evo Morales para aprovar a sua Constituição. E encerrou a viagem na Venezuela, onde declarou que "Chávez é jovem e aguenta um novo mandato".

Não é de hoje a fina sintonia de Lula com governos autoritários. O Foro de São Paulo, entidade fundada por Lula e Fidel Castro, entre outros, e cujas atas podem ser acessadas na internet, mostra que não há acasos. Assiste-se, de fato, a um processo articulado de socialização do continente de matriz autoritária. Tal processo passa, provavelmente, por uma tentativa de terceiro mandato do presidente Lula.
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