Opinião

Lobos perdem as rugas, mas não a manha!

José Nêumanne
Muitos têm sido os exemplos recentes da natureza eleiçoeira de nossa democracia: a 20 meses de eleições, não há agente público neste país que não tenha armado sua jogada para as disputas de 2010, mas nenhum deles expõe suas cartadas aos olhos da multidão.


A emenda à Constituição pondo fim à reeleição e aumentando o mandato presidencial para cinco anos, por exemplo, resolve um problema interno do PSDB, que, como de hábito, tem dois candidatos fortes que se esmeram em enfraquecer um ao outro, na esperança de que o eleitor os resgate no processo eleitoral. Os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, têm interesse na matéria, que passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, já que ela seria uma forma de um garantir ao outro a possibilidade de, preterido agora, candidatar-se em seis anos. Gente precavida! Será? Só uma alma ingênua e ignorante de nossa Realpolitik desprezaria a possibilidade de o pretendente de hoje, se galgar o poder com a regra, mudá-la e ressuscitar a reeleição em 2014: o único cânon imutável do mandonismo brasileiro é o de abolir todas as normas perenes. Se enxergassem um palmo além da própria ambição, os dois tucanos perceberiam que tal lei ainda vige. E mais: o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), tem apregoado a todos os ventos (e em todos os desertos) que este casuísmo é incentivado pelos governistas, empenhados em abrir uma brecha, seja para um novo mandato para Lula (com mais cinco, e não quatro anos), seja para esticar o atual em mais 12 meses, usando a tática do "se colar, colou".

Nem a velhinha de Taubaté ignora o sonho de Sua Excelência Excelentíssima de não sair do trono. Para começo de conversa, será subestimar o engenho político de Lula não perceber que, se fossem francas suas afirmações de que não pretende ficar, ele teria apontado em sua grei alguém com mais chances de derrotar Serra ou Aécio que a ex-guerrilheira Dilma Rousseff. Ora, direis, a cirurgia plástica a que ela se submeteu é o primeiro indício de que há um projeto para valer em torno dela. Difícil será resistir a dois comentários cínicos a respeito: pode ser que a operação tenha amenizado as feições da chefe da Casa Civil, mas dizer que a embelezou será um caridoso exagero retórico; e, se mudança no visual levasse à vitória em eleições, a venerada Dercy Gonçalves e Marta Suplicy não perderiam uma sequer. Cirurgias plásticas mais bem-sucedidas que as feitas nas citadas já teriam tornado a primeira-dama, dona Marisa Letícia, nossa própria versão da argentina Cristina Kirchner. E ainda: se falta de formosura levasse à perda de voto, o presidente da República não teria vencido as eleições que venceu. Igualmente o sucesso eleitoral recente de José Serra não pode ser justificado pelos "belos" olhos emoldurados por suas fúnebres olheiras. Num rasgo excepcional de boa vontade, é possível recorrer ao precedente Pitta para vislumbrar alguma chance de, sendo realmente a candidata in pectore do presidente, a chefe da Casa Civil, sem liderança alguma no partido mandante, o PT, ser o mais recente e surpreendente poste de sucesso na democracia brasileira.
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