Opinião

A ameaça das demissões

Editorial do Estadão
Se discurso oficial criar emprego, o Brasil passará pela crise global com pouquíssimas demissões. Segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a economia brasileira vai abrir 1,5 milhão de postos de trabalho com carteira assinada em 2009. Essa estimativa, apresentada há uma semana, foi acompanhada de uma profecia audaciosa: "Em janeiro a situação se estabiliza e em março volta o crescimento forte na área da empregabilidade, que mede o bom resultado de uma economia." Toda pessoa responsável torcerá pelo acerto dessa previsão, mas os dados, neste momento, não justificam muito entusiasmo. Um terço das indústrias pesquisadas no mês passado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) planeja demitir pessoal até fevereiro. Essa parcela, 32,5%, é praticamente igual à de janeiro de 1999, quando ocorreu uma das piores crises cambiais das últimas duas décadas.

No Brasil, os efeitos da crise internacional têm sido menos severos, até agora, do que noutras grandes economias, mas os sinais de enfraquecimento da atividade industrial são inequívocos. Houve acúmulo de estoques a partir de outubro, várias indústrias deram férias coletivas e parte dos produtos foi desencalhada graças a cortes de impostos e de preços. As exportações perderam impulso e o mercado interno não foi suficiente, até agora, para compensar o menor dinamismo do comércio exterior.

Até novembro, no entanto, os efeitos da crise no mercado de trabalho foram pouco sensíveis. Nas seis maiores áreas metropolitanas, cobertas pela pesquisa mensal de emprego e renda do IBGE, a desocupação, 7,6%, foi praticamente igual à de outubro, mas sensivelmente inferior à de um ano antes (8,2%). A população ocupada, 22,1 milhões de pessoas, incluía 611 mil pessoas a mais do que em novembro de 2007. A taxa de desemprego manteve-se na altura de 7,5% da população economicamente ativa por quatro meses, a partir de agosto.

Em novembro, os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, foram menos favoráveis, mas não receberam muita atenção. Nesse mês, foi contratado 1,27 milhão de trabalhadores e desligado 1,32 milhão. O saldo negativo, 40,8 mil, correspondeu a uma redução de 0,13%.

Os números do Caged e os da pesquisa mensal do IBGE não são diretamente comparáveis. Estes correspondem ao total das contratações e demissões, com ou sem carteira, em seis grandes áreas metropolitanas. Os dados do Ministério do Trabalho têm amplitude nacional, mas só se referem à situação do emprego formal, isto é, com registro em carteira.

Em novembro de 2007, o Caged registrou um saldo positivo de 124,5 mil empregos, quadro bem diferente do observado em novembro de 2008. Os números do mês passado podem ser muito mais preocupantes, segundo as informações extraoficiais antecipadas nos últimos dias. Em dezembro de 2007, a diferença entre contratações e demissões foi um resultado negativo de 319,4 mil. A redução de quadros é normal em dezembro, porque muitos postos abertos nos quatro ou cinco meses finais de cada ano são temporários. Mas em 2008, segundo as notícias antecipadas, os cortes podem ter sido muito maiores, próximos de 600 mil. A diminuição, nesse caso, não terá refletido apenas a variação sazonal da atividade, mas uma rápida piora da situação e das perspectivas da economia.
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