Manchetes do dia

Irmão gêmeo

Xico Graziano
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) comemorou 25 anos. Para alguns, elogios. Outros, duras críticas. Afora o julgamento de valor, cabe analisar a origem da polêmica entidade. Como surgiram os invasores de terras?


A história vem antes do golpe militar de 1964. A criação do aguerrido movimento coincide com o conflito agrário da Fazenda Sarandi, localizada no norte gaúcho. Desapropriada, porém não indenizada, pelo governador Leonel Brizola, aquela área permaneceu muito tempo ocupada por centenas de posseiros. Barril de pólvora.

Sem solução fundiária, o tempo passou. Quinze anos depois, em 1979, duas glebas da antiga fazenda (Macali e Brilhante) foram definitivamente tomadas pelos camponeses. Logo depois, ergueu-se enorme acampamento na Encruzilhada Natalino, ali perto, à beira da rodovia estadual, onde permaneceram mobilizadas centenas de famílias. Nesse efervescente caldo, mistura de miséria com ideologia, germinou o MST.

Organizado formalmente somente em 1984, em congresso nacional realizado no Paraná, a nova organização arregimentou aquele povo para invadir, definitivamente, toda a Fazenda Sarandi. Na leitura política da sociedade, um movimento de massa, com forte apoio da opinião pública, vencia o carcomido latifúndio. Vitória dos novos tempos.

Ruía, na mesma época, a ditadura militar. No processo da redemocratização do País, após dura repressão, a luta pela reforma agrária ganhava fôlego. Todas as correntes de oposição ao regime, unidas, abriam espaço para a contestação da velha estrutura de poder no campo. Esse privilegiado contexto político favoreceu o viço do MST.

A nova entidade nasceu rachando com a Contag, a poderosa e tradicional Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Dominada pelos comunistas desde 1968, ela capitaneava a luta sindical no campo. O rival político expressa uma importante divergência ideológica na esquerda brasileira.

Há um importante detalhe. Antes do MST, dentro da Igreja Católica se constitui, em 1975, a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Sem a CPT não se entende o MST. São os corajosos bispos católicos de esquerda que lideram os movimentos camponeses de contestação, do Bico do Papagaio, no Araguaia, à colônia gaúcha. A Teologia da Libertação engendrou a raiva contra a terra ociosa.

Nessa articulação da esquerda católica se agrupam variadas tendências políticas que nunca aceitaram a supremacia do antigo Partido Comunista. Aqui reside o berço contestatório do futuro Partido dos Trabalhadores. O MST é irmão gêmeo do PT.
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