Battisti

Qual será o intuito?

Maria Helena Rubinato
Ouvi ontem o Chanceler brasileiro dizer que o Brasil é um país que não tem arestas com ninguém, por isso é bem recebido e ouvido por todos. É verdade (ou era), nunca fomos alvo de preconceito, mesmo porque não tínhamos pendengas com nenhum país. Não tínhamos...


A outra parte da afirmação, “ouvidos por todos”, além de meio exagerada, veio perdendo o impulso que alguma vez teve. E não creio que os últimos acontecimentos venham melhorar nossa situação.

Se houvesse ao menos uma explicação lógica para o asilo a um cidadão italiano, julgado e condenado pela Justiça italiana, uma só, quem sabe nosso país continuaria benquisto? Porque com a Itália, acabamos de criar arestas e farpas bem agudas. Justo com um país que nunca fez mal ao Brasil, muito pelo contrário. E que deu cidadania à senhora do Presidente LILdaSilva, em tempo recorde! E deu também cidadania italiana à senhora do último Ministro da Cultura, senhora Flora Gil. Foi retribuição a essas gentilezas?

Resolvi consultar o que diz o “L’Unitá” on line. O mais importante e influente jornal da esquerda italiana, fundado por Antonio Gramsci em 1924, imagino que não vá ser contestado por essa esquerda de fancaria que por aqui viceja.

A nota do jornal não difere das notas no “La Reppublica” ou no “Corriere della Sera”. É noticiosa, apenas: “A decisão de negar a extradição pedida pela Itália”, explica o Ministro da Justiça brasileiro, Tarso Genro, “se baseia no temor de que o apenado seja alvo de perseguição por sua opinião política”. Continua relatando o que já sabemos e que foi amplamente divulgado: que o terrorista era membro do grupo “Proletários Armados para o Comunismo”, foi condenado na Itália à prisão perpétua por quatro homicídios, durante muito tempo refugiou-se na França, graças à doutrina Mitterrand, mas quando essa foi abandonada, veio se esconder no Brasil.

Relata a decisão do Conare, repete uma frase dita pelo italiano a um semanário brasileiro (que não identifica), quando ele diz temer ser assassinado se fosse extraditado para seu país. Como é um jornal on-line, pedindo perdão mentalmente ao Sarca, fui ler os comentários. E me diverti à grande, apesar do assunto árido. Têm até um comentarista que brada por coerência! Lembra alguém do nosso pequeno clube? Se alguém achar que escolhi os que apóiam o que penso, que vão lá ler. Vão se surpreender.

“1) Não compreendo os que defendem Battisti. É um assassino culpado de quatro homicídios. Está na hora de acabarmos com esse protecionismo, seja de direita ou de esquerda, ou neutro, como podia ser considerada a doutrina Mitterrand. Battisti fugiu da França porque estava para ser extraditado para a Itália. E é inconcebível a decisão do ministro da Justiça do Brasil. Battisti é um homicida banal (de fato!) que cometeu seus crimes durante assaltos com armas. Essa recusa brasileira me incomoda muito e me faz perder a simpatia que nutria pelo Lula.

2) Aos defensores do corajoso Battisti. Desculpem, mas se vocês estão convencidos da inocência de Battisti, como explicam ele ter fugido da Itália e depois da França? Não podia ficar e explicar seus motivos e a sua inocência? Geralmente, os que fogem é porque têm a consciência suja.

3) O que faremos agora? Vamos perdoá-lo? Trazê-lo de volta, talvez arranjar-lhe um emprego, coisa que tantos estão tentando arranjar neste momento? A desinformação é perigosa: Battisti é um assassino e como tal deve estar preso. O que quer dizer esse comentário de (cita um nome, provavelmente cortado pelo moderador local)? Há uma sentença que o condena por 4 homicídios cometidos em nosso país e que deve ser respeitada. Não podemos invocar a justiça apenas contra nossos adversários políticos e ou contra os que não pensam como nós. Um pouco de coerência, por favor. Acho absurdo que em pleno 2009 não estejamos de acordo ao menos sobre um caso como esse; em minha opinião, ninguém pode pensar de modo diverso. Battisti na cadeia!

4) Mas como é que podemos nos surpreender quando a centro-esquerda na Itália vence sempre, se alguns leitores (por sorte, poucos) de um jornal da esquerda extra-parlamentar (como se dizia antigamente) defendem assassinos que mataram policiais e açougueiros (nenhum nobre ou da alta burguesia!) Incrível, Grotesco e Deprimente.

5) Lula não compreendeu nada. Battisti é um assassino e pronto. Deve cumprir sua pena. Nunca se arrependeu e continua a ser protegido: um absurdo.

6) Cesare Battisti merece ficar preso na Itália para cumprir a pena prevista em seu julgamento; aquele que atira contra um ser vivo é um velhaco criminoso. Falo como homem que sempre tomou posição, que acredita na política de esquerda, que da Constituinte até hoje sempre defendeu ardentemente os princípios e os valores da liberdade, da democracia, e do estado social e de direito, refiro-me ao comunismo e, portanto, ao Partido Comunista Italiano com o qual todos temos um débito e do qual ficamos órfãos, mas que serve até hoje como modelo e exemplo”.

Isso pensam os leitores do L’Unitá. Já o senhor LILdaSilva pensa que um simples exilado (sic) não vai perturbar o bom relacionamento do Brasil com a Itália... E o senhor Celso Amorim acredita que somos muito queridos em toda a parte.

E eu fico com muita pena de não saber iídiche ou árabe ou farsi, para ler os jornais do Oriente Médio. O dado concreto é que deve ser extraordinário ler sobre a tournée do Chanceler e ver como naquela região, ao menos, estamos muito bem cotados. Minoraria a tristeza que ler os jornais italianos despertou em mim. (Do Blog do Noblat)

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