Arquitetura

Edifício Vilanova Artigas - degradação

Benedito Lima de Toledo
O estado de degradação a que se viu conduzido o Edifício Vilanova Artigas, sede da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), é fato que se alinha entre os crimes contra o patrimônio da humanidade. Reconhecido internacionalmente por seu caráter inovador, surpreende por seu estado atual. Regularmente nele são ministrados cursos de restauro e preservação de bens culturais. Hoje parecem esquecidos os princípios que regem os graus de intervenção em monumentos históricos, a saber: preservação, conservação, reparo e restauração.


Preservação entende-se como atividade permanente, referida, por vezes, como "lição de casa". Conservação vincula-se à profilaxia, como detecção imediata de vazamentos ou imunização de componentes suscetíveis a ataques de térmitas. Reparo constitui intervenção mais complexa, a exemplo da substituição de elementos degradados, preservando-se sempre harmonia do conjunto. Por esse método e seguindo a sequência referida, provavelmente não se tornará necessária atingir o terceiro e mais complexo grau de intervenção: a restauração.

O conceito moderno de restauração foi formulado por Camillo Boito (1836-1914) em 1883, durante congresso realizado em Roma. Os princípios essenciais em que se baseia esse conceito foram assim sumarizados por Renato Bonelli.

"1. Os monumentos têm valor não somente para o estudo arquitetônico, mas como uma evidência da história dos povos e das nações e, portanto, devem ser respeitados uma vez que qualquer alteração é enganosa e conduz a deduções erradas.

2. Os monumentos devem ser consolidados antes que reparados; reparados antes que restaurados. Adições e renovações devem ser evitadas.

3. Se adições forem indispensáveis por razões de estabilidade ou por outras razões absolutamente necessárias, elas deveriam ser executadas com base em dados seguros e com diferentes características e materiais, mantendo-se, ao mesmo tempo, a aparência do edifício.

4. Adições feitas em diferentes épocas devem ser consideradas parte do monumento e conservadas, salvo se forem causa de obstrução ou alterações."

A doutrina conheceu uma difusão muito lenta. Somente em 1931, na Conferência Internacional de Restauração de Atenas, seus princípios foram consagrados. A sistematização e a modernização desses conceitos devemos a Giovannoni (1873-1947), seu principal propagador e um dos mentores da Carta de Atenas. Para Giovannoni, o monumento não pode ser dissociado do seu meio. É conceito de entorno. A condição de monumento se estende à cidade.

Cesare Brandi (1906-1988), arquiteto e crítico de arte, foi um dos responsáveis pela fundação do Instituto Central de Restauro de Roma, instituição onde se formulou uma Teoria do Restauro, impropriamente chamada "restauração científica". Nela vamos encontrar uma definição de restauração, geralmente aceita como mais abrangente: "Restauração de uma obra de arte pode ser definida como o reconhecimento metodológico de uma obra de arte em sua forma física e em sua dualidade estética e histórica, com vista à sua transmissão ao futuro." Após considerar diversos fatores intervenientes, Brandi acrescenta que "o equilíbrio desses requisitos, frequentemente opostos, conduz ao segundo princípio de restauração: deve-se visar o restabelecimento da unidade potencial da obra sem cometer uma falsificação artística ou histórica e sem obstruir qualquer traço da existência da obra ao longo do tempo".

Em nosso país é hábito percorrer caminho inverso ao proposto por Camillo Boito em 1883. No geral, começamos pela restauração e, ainda assim, quando pressentimos ruína iminente. Justificativa usual: "Não há verba." Nem interesse pela cultura, poderíamos acrescentar.
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Nota do Editor - A leitura do texto do professor Benedito Lima de Toledo nos remete a um problema agudo do patrimônio arquitetônico de Ubatuba. O Casarão do Porto. (Sidney Borges)

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