Parece ficção

O neandertal entre nós

Pedro Doria
O Parque dos Dinossauros é possível? De alguma forma, parece que sim. E o primeiro
mamute vivo após 60.000 anos custaria algo como 10 milhões de dólares. O DNA do animal já foi seqüenciado. Seria teoricamente possível pegar o DNA de um elefante e modificá-lo artificialmente até que fique igual ao do animal extinto. Adaptar o ovo de um elefante para carregar e desenvolver tal código genético, embora difícil, não é impossível. (Ovo, não custa lembrar, não é aquilo que aves e répteis produzem; ovo é o nome da célula produzida pelo encontro de óvulo e espermatozóide.) Uma elefante africana poderia ceder seu útero à cria.
O mesmo processo é possível para o Homo neanderthalensis. Nosso primo mais próximo ainda não teve seu DNA seqüenciado, mas o trabalho está encaminhado. DNA neandertal poderia ser criado a partir do DNA humano, adaptado a um ovo humano e uma mulher cederia seu útero à cria. Uma alternativa seria fazer adaptação a partir do DNA de um chimpanzé e cobrar de uma chimpanzé que engravide da cria.
E há algo de apavorante, de no mínimo desconfortante, nesta idéia.
A fonte é George Church, cientista da Escola de Medicina de Harvard. John Hawks, antropólogo da Universidade do Wisconsin, diz que nada é assim tão simples. Para reproduzir a molécula de DNA do neandertal, será necessário utilizar
DNA de Homo sapiens – nosso – em vários pontos. O chimpanzé é próximo, mas não o suficiente.
(Eu ia escrever DNA humano, e não de Homo sapiens. Acontece que o DNA neandertal também é humano.)
Os neandertais tinham algo entre metro e meio e metro e oitenta de altura, pesavam até 80 quilos. Tinham, relativamente aos Homo sapiens de então, mais força muscular. Mas isto não quer dizer que poderiam encarar um boxeador profissional de hoje. Hawks argumenta, em um
post de seu blog, que eles talvez parecessem um pouco diferentes. Mas, dadas as diferenças entre etnias que já existem entre nós, eles não seriam tão diferentes assim. E eram ágeis caçadores.
Tudo o que arqueólogos e paleontólogos já levantaram e descobriram sobre neandertais não nos permite saber o quão distintos eles eram de nós do ponto de vista cognitivo. É talvez reconfortante imaginar que fossem idiotas – mas não é certo. O que parece certo é que nossos antepassados caçadores-coletores desbancaram seus primos, na Europa. Hawks defende que, mesmo que eles tivessem um nível cognitivo mais baixo, ainda assim seria possível encontrar pessoas com níveis equivalentes, hoje. Somos um bocado diversos, os humanos.
Os humanos neandertais não existem faz 30.000 anos. Até há poucos anos, acreditava-se que era a única outra forma do genus Homo com a qual convivemos. Aí descobriu-se o Homo floresiensis, um nanico apelidado de Hobbit que existiu até pelo menos 12.000 anos atrás em Flores, uma ilhota próxima do Timor, no Pacífico.
Não custa um pouco de nossa história para que tudo fique em contexto: o Homo sapiens surgiu na África, segundo a ciência mais recente, 200.000 anos atrás. Era uma forma primitiva de nós, o Homo sapiens idaltu. Nós, o Homo sapiens sapiens, existimos faz algo entre 160.000 e 150.000 anos. Alguns estudos indicam que temos a capacidade moderna de fala e linguagem faz 60.000 anos. A revolução agrícola, que nos fixou na terra, o momento em que deixamos de ser nômades coletores e caçadores, foi 10.000 anos atrás. Foi 9.000 anos atrás que começamos a nos agrupar na região da Mesopotâmia – atual Iraque – e 5.000 anos atrás já haviam por ali cidades grandes que podemos chamar com tranqüilidade, em seu conjunto, de civilizações. A civilização egípcia é só um pouquinho mais jovem. Roma foi fundada 2.800 anos atás. A Grécia Clássica tem uns 2.600 anos, mais ou menos a mesma idade que os livros mais antigos do Velho Testamento. Paris foi fundada faz 2.060 anos. O Brasil, descoberto há 508 anos. O Homo sapiens deixou a Terra pela primeira vez há 47 anos.
E agora querem trazer o neandertal de volta.
Atualização - Ligeiramente modificado com sugestões de Monsores e Darwinista, nos comentários. Há um texto maior, no Weblog, que conta a história da
origem evolutiva do homem.

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