Opinião

O PT tropeça na crise

Editorial do Estadão
Já não bastasse a fatalidade de disputar a próxima eleição presidencial, pela primeira vez desde 1989, sem a candidatura Luiz Inácio Lula da Silva, o PT terá contra si na campanha de 2010 os maus ventos da economia. Ainda que os estragos da crise financeira mundial não venham a mergulhar o Brasil numa recessão como a que já se instalou nos países centrais, bastará a ruptura do ciclo de bonança dos últimos anos para recobrir com pesadas nuvens as chances petistas de se manter no governo - com uma provável candidata, a ministra Dilma Rousseff, da escolha pessoal de Lula, sem raízes na agremiação e cujo apelo eleitoral por enquanto se traduz em índices de um dígito nas pesquisas de intenção de voto. Além disso, tampouco se sabe até que ponto a popularidade do presidente se manterá incólume, à medida que se frustrarem as atuais expectativas otimistas da maioria da população, e, menos ainda, qual será a sua capacidade de carrear votos para a sua afilhada política, no cenário de adversidade que se desenha.

O PT, portanto, tem motivos de sobra para se inquietar - e para procurar, desde já, uma estratégia eleitoral que atenue o dano inevitável da ausência, na cédula eletrônica, do nome que agrega votos numa escala a que a legenda não pode aspirar, para si, nem em sonho. Será, ao que tudo indica, uma jornada acidentada e de resultados duvidosos.

O primeiro passo, pelo menos, foi um tropeço. No último fim de semana, mais de 200 dirigentes partidários se reuniram em São Roque, no interior paulista, para um encontro da corrente Construindo um Novo Brasil, que controla o PT, nascida dos escombros do antigo Campo Majoritário, alcançado em cheio pelo escândalo do mensalão em 2005 (o que não abalou a liderança, no grupo, do ex-ministro José Dirceu). Ao cabo de três dias de palestras, com a presidenciável Dilma no papel de debutante, a elite petista chegou à notável conclusão de que a culpa pela versão brasileira da crise econômica cabe ao PSDB e ao DEM.

"A crise tem pai e mãe", proclamou no encerramento da reunião o secretário nacional de Comunicação do partido, Gleber Naime. "Ela é uma crise do modelo neoliberal, daqueles que no Brasil defenderam as idéias de desregulamentação do Estado, ou seja, o PSDB e o DEM. E esse debate o PT vai fazer." A confusão é geral. Para começar, os petistas agem como se as políticas que têm como anátema - aquelas iniciadas no primeiro governo de Fernando Henrique a partir da estabilização da moeda brasileira, com a criação do real, e sensatamente mantida, até hoje, pelo presidente petista - não fossem os alicerces de toda sua imensa popularidade. Além disso e mais importante ainda, foi graças a essas políticas, impropriamente rotuladas de neoliberais, que o Brasil é apontado hoje como o país mais apto entre os emergentes a resistir ao tsunami global. Ou, nos termos de um relatório da OCDE, divulgado na última sexta-feira, o cenário é de perda de ritmo, não de "forte desaceleração".
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Comentários

Acho eu que o PT tem uma tarefa muito difícil. Vários temiam um “golpe” na democracia, com 3º mandato e tudo mais... Mais o PT mostrou o contrario, é um partido sério que mesmo sendo atacado por diversas forças enraizadas no topo de nossa sociedade desde que o Brasil é "mundo", fez uma eleição em 2006 limpa, quando muitos esbravejavam que as bolsas eram esmolas etc... veio a crise mundial e mostrou que se investir em gente é melhor do que comprar papeis acionários. tenho minhas duvidas, por conhecer o povo do Brasil, que A Dilma venha a ser vitoriosa no País. o nosso povo ainda não tem a compreensão de julgar ou não um bom governo... nosso povo infelizmente gosta de Marketing... tanto que demorou quase 13 anos para que o povo levasse o Lula até o poder, infelizmente.

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