Opinião

O clima ainda em compasso de espera

Washington Novaes
Estas linhas são escritas ainda sob o impacto das notícias sobre o mais grave desastre climático em Santa Catarina, problemas da mesma ordem nos Estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro e com centenas de municípios do Nordeste em estado de emergência por causa da seca - no mesmo momento em que pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, da Embrapa e da Fiocruz prevêem (Estado, 26/11) que as mudanças no clima nas próximas décadas podem agravar a situação no Semi-Árido, com perdas superiores a 60% nas áreas aptas para a agricultura em vários Estados. E tudo isso acontece no mesmo momento em que 192 países discutem em Poznan, na Polônia, caminhos para novo acordo que permita reduzir no mundo as emissões de gases que intensificam o efeito estufa.


Continua muito difícil. Mesmo dentro do bloco europeu, o mais favorável a compromissos obrigatórios de redução (pelo menos 20% até 2020), a própria Polônia, a Itália e alguns outros países acham difícil assumir compromissos agora, em meio à crise financeira. O Japão só quer assumir compromissos no ano que vem. O presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e Prêmio Nobel da Paz, Rajendra Pashauri, acha "espantoso" que os países industrializados em poucas semanas mobilizem trilhões de dólares para salvar instituições financeiras, quando não se consegue reunir algumas dezenas de bilhões de dólares anuais para resolver o problema da fome no mundo ou algumas centenas de bilhões para desenvolver tecnologias que reduzam emissões. Uma das razões está em que todos aguardam que mude o governo norte-americano para definir rumos: só à última hora, na conferência de Copenhague (dezembro de 2009), cada país vai abrir o jogo.

Parece temerário. O IPCC considera indispensável baixar as emissões de poluentes em pelo menos 66% até 2050 para evitar que a temperatura suba mais que 2 graus. O relatório sobre efeitos do clima na economia, preparado pelo ex-economista chefe do Banco Mundial sir Nicholas Stern, concorda - e acha que temos menos de uma década para baixar as emissões em 80%, sob pena de enfrentarmos a mais grave recessão econômica da História, que poderá levar à perda de até 20% do produto mundial bruto (mais de US$ 10 trilhões). Diagnóstico divulgado em outubro pela insuspeita Agência Internacional de Energia é ainda mais contundente: não será possível conter a concentração de poluentes na atmosfera em 450 partes por milhão (ppm), será preciso muito esforço para ficar em 550 ppm - e com isso a temperatura planetária subirá pelo menos 3 graus Celsius, com efeitos ainda mais desastrosos. Mas se nada for feito ela poderá subir até 6 graus. Por enquanto, as emissões seguem subindo, por causa do aumento no consumo de energia, que será de 45% até 2030, gerada em 80% pela queima de combustíveis fósseis, principalmente nos países "em desenvolvimento", que passarão de 51% para 62% do consumo total. Para amenizar esse quadro seria preciso investir pelo menos US$ 4,3 trilhões em tecnologias e outros programas.
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