Álcool

Abaladas pela crise, usinas de álcool enfrentam inadimplência

Em quase todas as regiões de São Paulo há atraso no pagamento a fornecedores; dez usinas foram adiadas

José Maria Tomazela, SOROCABA
Pelo menos 6% dos canaviais ou 29,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar deixaram de ser colhidas no Centro-Sul do País, a principal região produtora. A sobra de 330 mil hectares de cana em pé é um dos efeitos da desaceleração dos investimentos no setor provocada pela crise internacional. No interior de São Paulo, pelo menos 10 usinas que deveriam entrar em operação este ano não ficaram prontas. Em Mato Grosso do Sul, dos 43 projetos com operação prevista até 2018, cerca de 20 já sofreram corte de recursos.


A crise sucroalcooleira preocupa o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, João de Almeida Sampaio. Ele se reuniu com representantes do setor para discutir a situação. "O desafio é garantir que as usinas cheguem à próxima safra em condições de moer", disse ao Estado. As usinas precisam de dinheiro para bancar as despesas da entressafra, que incluem a manutenção das máquinas, a renovação dos canaviais e o preparo das usinas para a nova safra.

Os chamados ACCs (Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio) oferecidos por tradings ou bancos tornaram-se escassos e com juros altos. "O setor foi pego numa situação de baixo preço do açúcar no mercado internacional, baixa demanda para exportação de etanol e um nível de investimento altíssimo, feito com recurso de curto prazo", disse o secretário. Com a escassez de crédito, a usina ficou sem caixa para tocar os negócios.

Em quase todas as regiões do Estado houve atraso no pagamento de fornecedores. Apesar de quatro grupos usineiros já terem requerido a recuperação judicial, o secretário não acredita em quebradeira generalizada. "Algumas usinas vão sucumbir até o início da próxima safra, mas os fundamentos são positivos e levam a crer numa melhora para o setor." A primeira a pedir recuperação judicial foi a Companhia Albertina, de Sertãozinho. Também entraram com pedidos os grupos João Lyra, Naoum e Othon, que atuam em Estados do Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.

De acordo com o diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única), Antonio de Pádua Rodrigues, as empresas passaram a depender do mercado para se recuperarem. "A esperança é de que os preços melhorem." Mesmo que o preço do barril de petróleo se mantenha no nível atual, abaixo dos R$ 50, ele acredita que o etanol continuará uma alternativa de energia limpa e renovável.
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