Coluna da Sexta-feira

Contrastes

Celso de Almeida Jr.
Estive no condomínio Ponta das Toninhas. Há alguns meses não passava por lá. Magnífica é a vista. Consolida a certeza de que estamos num paraíso. Boa parte daquelas casas vale mais de um milhão de reais. Algumas estão à venda. Sempre haverá quem compre.
Nesse mesmo dia ensolarado entrei num mercado no centro da cidade. Na saída, encontrei um vendedor ambulante conhecido de longa data. Estava radiante. Voltava das Toninhas com sua bicicleta antiga. Muito antiga. Corria para comprar mais queijo coalho. Daqueles que vem num palito. Há dez anos ele os vende na praia, assados numa churrasqueirinha portátil. Mostrou-se entusiasmado com esta temporada de verão e não perdeu tempo, voltando rapidamente ao trabalho. Queria avançar até o início da noite.
De uma mansão na Ponta das Toninhas, com um binóculo, é possível conferir o trabalho deste homem nas areias. Provavelmente ele não tenha muita qualificação profissional, mas está lá, por uma década, guerreiro, garantindo o pão.
Os olhos que o miram, possivelmente, ocupam uma cabeça privilegiada que, se ligada a um coração sensível, pensará em como garantir novas oportunidades aos trabalhadores e aos jovens ubatubenses mais humildes.
Tenho esperança no despertar de nossa elite.
Ubatuba tem, em seus condomínios mais luxuosos, homens e mulheres com a real possibilidade de abraçar ações comunitárias que permitam o acesso de muita gente à educação e à cultura.
Quero provocá-los.
Não é possível esperar tudo dos governos.
A iniciativa particular precisa mostrar a sua força, a sua capacidade de organização, o seu real compromisso com um povo que merece apoio e incentivo.
Para tanto, não se pode temer abrir a carteira.
Mais do que discurso, precisamos de dinheiro, bem aplicado, bem direcionado, bem gerenciado.
Não basta a palavra.
É preciso transformá-la em ação.

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